segunda-feira, julho 28, 2008

A mulher por trás do avental

Ainda sobre pratos chiques… depois de várias degustações concluo que alguns parecem uma simples tosta mista e depois se transformam numa requintada tosta com salmão fumado. Valha-nos estas excepções.
Muitos julgam que na minha cozinha reina a comida tradicional, sem espaço para grandes delicadezas. É mentira. Por trás do avental há uma chef gourmet, que adora o requinte.
Sim gosto que me abram a porta para entrar na cozinha. Sim, gosto que me puxem a cadeira quando me vou sentar para provar os prazeres da boca. Sim, gosto de presentes. Sim gosto que me surpreendam com sabores inesperados. Sim, há uma mulher por trás dos tachos. São poucos os que chegam a perceber isto.

Caviar não enche barriga

Uma amiga hoje disse-me a seguinte frase:
“O problema dessa conversa de caviar é que é chique, mas depois não alimenta”.
Ela tem razão. Foi uma bela descrição gastronómica para o caviar mais antigo do meu menu.

segunda-feira, julho 21, 2008

Sabor azedo

O ingrediente mais azedo de qualquer cozinha é certamente a desilusão. São raras as vezes que o deixo cair na minha panela mas desta vez escapou-me. Posso mexer mil vezes com a colher de pau que o gosto amargo não sai. Não sou uma cozinheira rancorosa, mas comigo é mesmo assim. Deito-a pela pia abaixo mas o cheiro fica no ar eternamente, entranhado nos armários dos meus tachos. Ninguém dá por ela, eu isso não deixo. Mas quando entro na cozinha da minha vida, ela está lá escondida. E estará por muito tempo, tenho a certeza.

domingo, julho 20, 2008

Boatos para ferver em lume alto

Um pequeno apontamento para constatar o seguinte: entre os presentes que recebi hoje vinha uma vela "para noites de sedução". Há uns dias recebi das mais altas patentes a colecção dos livros sobre sexo do Correio da manhã. Um manual de receitas afrodisiacas também me está prometido sem eu ter pedido nada. Começo a achar que a clientela está certa de que a minha vida afectiva com os tachos ferve a altas temperaturas. Gostava de apanhar o chef que espalhou tal boato.

Batata quente

Sou como uma batata que acaba de sair da terra. Colhida para os meus míseros 24 anos que tanto espantam quem me rodeia. Nada muda, mas ao mesmo tempo muda tudo. Apenas porque na minha cozinha todos os dias são de mudança.
A batata é um alimento que se adapta a qualquer prato. Talvez por isso e por todas a vezes que já tive de dar a volta na minha horta nos últimos dez anos eu me sinta como este vegetal. Seja feita em puré (que já foram umas quantas), seja frita em altas temperaturas, seja assada no forno à moda maltesa que eu tanto gosto, seja a murro (ok, só houve uma vez e não fui eu quem ficou negra), seja recheada... como nesta noite em que entrei nos meus 24. Recehada de pessoas especiais.
Neste preciso momento sou uma batata quente. Daquelas que se tem na mão e não se sabe o que fazer com ela. Sou uma batata quente de emoções e desejos. De sonhos e convicções. Sem bolor.

quinta-feira, julho 17, 2008

Alka-Seltzer... no más!

Ingredientes:
1 lata de descontracção
1 pacote de expectativas
Alka-selzter

Uma conversa no Bairro, depois da minha cozinha fechar, abriu-me os olhos. Um desconhecido (que agora vai ficar cliente, tenho a certeza) deu-me um conselho sábio para o futuro do meu menu: não insistas em refogar prolongadamente esse pacote bolorento de expectativas. Põe antes na tua frigideira a lata da descontracção e faz um repasto com aquilo que não te prejudica o estômago.
Ando há uns bons tempos a tomar alka-seltzer. Repetidamente. Há uma tendência em insistirmos nos ingredientes inesperados, dos quais nunca sabemos qual vai ser o sabor final (ou mesmo quando é que vai finalmente ficar cozinhado). Ontem decidi: vou retirar da despensa a lata da descontracção. Já tenho o meu próximo destino de férias decidido.

terça-feira, julho 15, 2008

Sabores do mundo misturados

Continuando na música, vamos misturar feijão e arroz do Brasil com hambúrgueres da Califórnia… e um belo tinto de Portugal. À falta de uma Vanessa da Mata, o repasto termina com um momento memorável em que 30 mil pessoas fazem um dueto com Ben Harper. E assim continua a minha barrigada de concertos de verão.

segunda-feira, julho 14, 2008

Fora da cozinha... sem controlo

Nos últimos dias fechei a cozinha e dediquei-me a outro prazer da vida: a música. Há momentos em que nos sentimos em sintonia com o mundo. No concerto dos The Gossip foi assim que me senti. O (meu) mundo parou lá fora. Mas o mais engraçado é que eu nem sequer conhecia bem a banda. Ora aqui fica o melhor momento da noite… com mais de 50 pessoas a dançar em cima do palco em êxtase total.

sexta-feira, julho 11, 2008

Receitas antigas

Hoje é dia de regressos ao passado na minha cozinha. Mr. Bob Dylan é o chef de serviço esta noite. Aqui fica um dos pratos que eu espero ter o prazer de provar mais logo.

terça-feira, julho 08, 2008

Indecisões no menú

Ingredientes:
Cubos de açúcar
Malaguetas
Molho agridoce

Vou às compras para que o stock da minha cozinha não acabe e deparo-me com um dilema: só tenho espaço na prateleira para um produto. Problema que cresce quando a oferta é variada. Altura de decisões, concluo.
Como escolher entre um pacote de cubos de açúcar, uma caixa de malaguetas e um pacote de molho agridoce? Gosto dos três sabores e cada um deles preenche um lado do meu menu. Por um lado a doçura dos cubos de açúcar fazem-me água na boca e imagino a quantidade de belas delícias podia fazer… e que me deixariam certamente caramelizada. Contudo, as malaguetas significam o lado picante do meu livro de receitas… do qual eu sou adepta. Por fim, o molho agridoce, tal como o nome indica, representa a mistura dos dois últimos. Tem um lado doce como mel e outro amargo, picante e alucinado que (vá-se lá saber porquê) me fascina.
Fazendo contas à vida, não sei qual o rumo escolher para o meu espaço gourmet. Acho que vou atafulhar a cozinha e continuar com os três sabores… totalmente desarrumados.

sexta-feira, julho 04, 2008

Os meus pobres tachos

Devo confessar que na minha cozinha há um problema: deixo muitas vezes a comida pegar ao fundo do tacho. Geralmente aprende-se com os erros gastronómicos e evitam-se novos excessos ao lume mas eu acabo sempre por repetir. Esqueço-me de mexer com a colher de pau da racionalidade e acabo com a vida colada à base do tacho, meio queimada, meio estaladiça. As limpezas que se seguem são geralmente árduas. Há que raspar com força os restos e eu não sou uma cozinheira musculada nesse sentido. Contudo, não sei explicar porquê mas até gosto deste sabor a queimado. Talvez inconscientemente seja eu própria quem põe o lume no máximo e vira costas. Repito e volto a repetir. Estupidamente com um sorriso estampado na cara.

quarta-feira, julho 02, 2008

Arroz malandrinho

"Eu dou-te o arroz, dou!" Quantas vezes já eu ouvi esta frase na minha cozinha? Esta manhã enquanto lavava os tachos dei por mim a pensar na importância deste alimento na minha vida. Não escondo: sou tipicamente um arroz manteiga. Já tentei ser integral mas chateia-me a indiferença aos sabores em meu redor. Durante uns dias consegui vestir a capa de arroz selvagem mas não é essa a minha essência.
Perfumei a minha vida como se fosse um basmati mas mesmo assim faltava qualquer coisa. Após várias tentativas descobri que o arroz é muito melhor quando se adicionam novos ingredientes. Meti-me no tacho e decidi arriscar. Neste momento sou um arroz de tomate, carregado de coentros frescos… e bem malandrinho.