quinta-feira, fevereiro 28, 2008

No saco das pipocas

Ingredientes:
Milho para pipocas
Sal, açúcar, caramelo e baunilha

A minha vida dava uma longa-metragem de Almodovar. Disso não há dúvidas. As minhas últimas semanas têm sido um verdadeiro saco de pipocas (para acompanhar a longa-metragem, claro).
Já comi de todas. Salgadas, daquelas que me deixam a boca seca mas que têm de ser engolidas ; doces, daquelas que são comidas com um sorriso do início ao fim ; com caramelo, daquelas que sei que vão ficar coladas aos dentes mas mesmo assim opto por uns segundos de prazer sem piscar os olhos ; com gosto a baunilha… porque quando a longa-metragem se avizinha dramática há sempre uns anjinhos da guarda que se revelam em forma de pipoca. A vida surpreende-nos. As pessoas também. E eu afinal vou descobrindo que também há várias pipocas dentro da minha própria maçaroca de milho.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Amendoim torrado

Uma breve nota para dizer que neste momento sou um amendoim torrado. Prestes a entrar em combustão. Estou cansada.
Não consigo pensar. Os assuntos passam pela minha cabeça a mil à hora sem que eu tenha oportunidade de pesquisar com calma sobre cada um. Preciso de férias. A minha cozinha também.

domingo, fevereiro 24, 2008

Panela de sonhos bem temperados

Na minha cozinha os sonhos sempre foram ingredientes indipensáveis. Uso e abuso. E ainda bem que assim é. Esta semana dei por mim a receber um telefonema daqueles que idealizei durante anos e anos durante os meus tempos de adolescente. "Hi, this is Bryan". Bastou uma frase para temperar todos os sonhos cozinhados em torno desta pessoa que, de um momento para o outro, saiu do pedestal de ídolo para se transformar apenas num profissional que me dá uma entrevista para divulgar o seu trabalho. Finalmente estivemos de igual para igual.
Tinha onze anos quando uma catástrofe familiar se abateu na minha casa. Há quem enfrente os problemas com drogas, com alcool, há quem fuja. Eu optei pela música. Viciei-me numa cassete cujo titulo era "So far so good". Aquelas músicas eram uma sessão de terapia. Tinha onze anos.
Talvez por isso a pancada em torno deste homenzinho baixinho e rouco permaneça até hoje. Como qualquer fã, idealizei conversas e momentos durante muitos anos. Sem dar conta, tudo isso se tornou realidade. E é esta capacidade de acreditar nos sonhos que me fascina. Mais uma vez a prova de que a vida surpreende-nos quando nós não vivemos no reino das impossibilidades. Eu acredito. Eu sonho (muito!). E a minha vida acaba por se temperar com os melhores temperos quando eu menos dou conta.
Para recordar uma das minhas preferidas de sempre... ao vivo em Lisboa.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Churrasco de embraiagem

Ingredientes:
1 embraiagem
Muito carvão

O meu "boguinhas" tem sido tão fiel como um velho tacho. Daqueles que já têm o fundo negro, algumas amolgadelas e a tampa não fecha como deve ser. No entanto, os cozinhados lá feitos têm sempre um gosto divinal.
Comprado por apenas mil euros, o "bogas" tem sido o meu tacho todo-o-terreno. Até ontem. Em plena CRIL decidiu que estava na altura de descansar. A embraiagem foi-se, diz o mecânico. Foi com um nó na garganta (e na carteira) que o vi subir para o reboque, com bilhete de volta ainda por determinar. Era noite de ir à ópera... mas acabei apeada numa bomba de gasolina, tal qual adereço do cenário caótico do pior dia de chuva que Lisboa enfrentou nos últimos meses. Como se tivesse acabado de sair de um churrasco, ficou-me durante umas horas entranhado no nariz o cheiro a queimado do meu pobre companheiro de tantas cowboyadas.
Voltei a andar a pé.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Chuva com duas pedras de gelo

Há algo de profundamente devastador na chuva que me deixa meio embriagada. Por um lado adoro o som da chuva. Adoro deixar que as gotas me molhem o cabelo e a cara como se estivesse a lavar a alma. Mas, se por um lado sinto uma paz esmagadora, por outro não consigo deixar de ficar devastada com pensamentos que me inundam de tristeza.
Esta noite acordei com a trovoada. Deixei-me ficar quieta na cama a ouvir aqueles rugidos do céu. Durante mais de uma hora não consegui adormecer. Pela minha mente passava um único pensamento: enquanto eu estava ali no escuro do casulo da minha cama, lá fora centenas de pessoas dormiam à chuva protegidas por um cartão ensopado. Um pensamento tão banal, mas ao mesmo tempo tão aterrador. Um dia um amigo disse-me: não te deixes sofrer com as dores do mundo. Mas a verdade é que não consigo evitá-lo. Às vezes gostava de ser menos “assim”.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Bifes do coração

Ingredientes:
300g de bifes
Paixão para temperar

Para um caranguejo o estômago pode ser algo de extremo romantismo. Há uma tendência natural nas pessoas deste signo para tentar agradar aos outros através de comida… seja com chocolates, rebuçados artesanais, bolos bem recheados ou até mesmo com bifes.
Sim, bifes. Há uns anos, no dia de São Valentim fui para a cozinha decidida a presentear a minha cara-metade da altura com um repasto gastronomicamente apaixonado. Fiz-lhe uns bifes recortados em forma de coração, com umas batatinhas em forma de flor. Uma trabalheira. Mas o efeito foi o desejado: um enorme sorriso e uma bela sobremesa com requintes de chantilly…
Este ano não vai haver bifes apaixonados no Dia do Namorados. Mas a noite promete ser passada em boa companhia… certamente regada por um bom tinto, da cor do meu coração.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Pezinhos de coentrada precários

Ingredientes:
2 pezinhos de coentrada
1l de vinagre da precariedade

Ficar com a sola do pé inchada e não conseguir andar sem coxear é muito desagradável. Mas pior que isso é ouvir o médico a ditar a sentença: “Você tem o osso do pé torto. Das duas uma: ou anda com umas palmilhas ortopédicas ou vai à faca”.
Fiquei-me pelas palmilhas, sabendo de antemão que não seriam uma cura. Um ano depois, a verdade é que os meus pezinhos de coentrada foram sendo regados com algum esforço diário e agora as cartilagens que antes até eram saborosas já não estão a satisfazer os meus clientes.
Na semana passada voltaram as dores. Insuportáveis, devo frisar. Deixei as botas e optei pelos ténis. Pus doses industriais de gelo e continuei a minha vidinha sem me queixar a ninguém… principalmente ao médico. É que graças à situação precária dos meus pezinhos de coentrada a recibos verdes, devo mais de dois anos à segurança social. Não tenho dinheiro para um seguro de saúde e pedir um empréstimo para “ir à faca” não soa lá muito bem. O que é certo é que as ditas palmilhas já não fazem efeito. E o médico também não tem outra solução. Mas por mais cebola e coentros que ponha nos meus pezinhos, o gosto a vinagrete da precariedade é o que mais se faz sentir na minha travessa. E quando isto afecta nossa saúde, não há tempero que consiga acalmar o azedume.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Fantasma da ópera com canela e gengibre

Ingredientes:
1 pirata vagabunda
1 fantasma da ópera
500g de canela e gengibre

Receita: Mistura-se a pirata na capa do fantasma da ópera e polvilha-se com uma dose extra de canela e gengibre até aquecer.

Há simples imagens que têm nos remetem para pensamentos carregados de doses industriais de canela e gengibre. Este Carnaval saí decidida a encontrar esta mistura bombástica que certamente me faria perder a compostura de cozinheira séria que tenho vindo a conquistar ao longo da minha vida.
Vestida a pirata, lá fui eu, de espada em punho, em busca de um homem de capa preta e máscara branca… o fantasma da ópera. É verdade, devo confessar que no reino das minhas fantasias mais “encaneladas”, esta é a personagem que mais me deixa com os sentidos em alerta. Não me perguntem porquê. Acho-o sensual e ponto final.
Encontrei vampiros, duendes, cowboys, zorros (também não é mau), napoleões e até motoqueiros. O fantasma da ópera mais um ano não apareceu. Portanto deixo aqui a mensagem: pirata vagabunda procura fantasma da ópera para relacionamento sério… cheio de canela e gengibre!

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Biscoitos de boa-disposição

Porque adoro este filme. Porque estou num dia bem disposto. Porque também eu sou uma eterna "believer". Porque me apetece sorrir!