terça-feira, dezembro 29, 2009

Protecção de leite

D - Quando estamos a adormecer gosto de meter o braço assim em cima de ti.
P - E porquê meu amor?
D - Porque assim fico mais quentinho… e tomo conta de ti.

Sorrio e aconchego-o contra o meu peito. Abraço-o no gesto de protecção que sei mais dar do que receber. Sinto-lhe a respiração, os pés entrelaçados nas minhas pernas e invade-me a maior das ternuras. Tantas vezes quis que alguém tomasse conta de mim. Que me dissesse: não te preocupes, eu estou aqui. Já algumas pessoas o tentaram. Poucas o conseguiram. Mas o Diogo, com oito anos, hoje conseguiu. Na forma mais genuína de todas… com o coração.

domingo, dezembro 27, 2009

Flã de liberdade

Ainda está mole. Mas de cada vez que olho para o mapa mundo, como fiz hoje, percebo que em breve ficará duro. Como os meus olhos que deixaram de querer ver só ao perto. Como o meu coração, cuja porta é sim um portão de ferro desejoso de um dia conseguir verdadeiramente abrir. Volto a querer ver gentes e cores, saborear desejos e sabores, ouvir histórias simples de pessoas de longe, mas tão iguais a mim e ti. Quero sentir. Quero fechar os olhos e achar que estou a voar. Quero inspirar e cheirar um ar que não é o meu. O de todos. E na maior das humildades, ter o mundo à mercê dos meus pés. Percorrer metros, quilometros. Sorrir e chorar. Estar lá e voltar. Rumo ao infinito da minha cozinha.

"Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar"


"Fala do homem nascido", António Gedeão

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Luz apagada

Uma cozinha de luz apagada. Um suspiro no escuro. Um abanar de cabeça. Um erro pouco errado. Um passo em frente. Outro. Um (longo) minuto. Um esgar que parece um sorriso. Uns olhos que se fecham, por fim. Silêncio.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Rabanadas

As rabanadas são talvez o doce de Natal mais fácil e mais difícil de fazer. São simples, não exigem malabarismos na cozinha. Ao mesmo tempo, são frágeis… ou lhes tocamos com o nosso maior jeito ou partem-se ao meio., desiludidas com a nossa falta de cuidado.

Hoje, enquanto oiço fado e bebo um café num sofá que tantas vezes não consigo sentir como meu, penso nelas. Nas rabanadas da minha vida. Aquelas que entraram sem ser minha escolha. As que, quando dei conta, tinha escolhido. Todas, alvo de carinho incondicional. Decido não enviar sms natalícias em massa. Este ano falo apenas com aqueles que fazem parte da minha travessa de rabanadas. Não são muitos. Alguns passarão pela minha mesa, outros pelo meu telefone, outros eternamente pela minha memória até nos reencontrarmos num mundo longe daqui. Serão para sempre aqueles a quem poderei dizer que não, mas a quem nunca virarei a cara. Aqueles que tantas vezes me magoam, mas também amam… na sua estranha forma de amar. Aqueles por quem partirei… e também voltarei. Aqueles por quem farei as maiores loucuras… E os maiores erros. Aqueles a quem perdoarei todas as dores. Aqueles em quem descarregarei as minhas frustrações… porque sei que estarão sempre lá. Aqueles a quem darei a mão e em cujo ombro chorarei mais uma vez. Aqueles em quem pensarei quando estiver longe… e quando estiver perto. Aqueles que fazem parte de mim. Aqueles por quem nunca vou desistir. A minha gente.


segunda-feira, dezembro 21, 2009

Bolachas

Tento cozinhar bolachas, o mínimo possível. Porquê? Porque sei que em mim haverá uma vontade primária de abrir o pote e desfrutar da sua doçura escondida. Da dureza que tantas vezes já se quebrou na minha boca, revelando afinal ser uma massa macia. Evito ficar com vestígios de açúcar polvilhado na minha cozinha. Talvez para eu mesma não me lembrar que as comi. Mas quando abro o pote... sinto o cheiro, meto a mão e toco-lhes, levo-as à boca e saboreio… sinto que estou a faze-lo como se fosse a última vez. Porque na realidade nunca sei se haverá uma próxima. Ou se eu mesma ainda a quererei. Hoje, sei que sim. E, em segredo, tento abrir o pote sem pensar muito.

domingo, dezembro 20, 2009

Frase batida

Num copo alto bate-se uma noite de conversas sem entraves nas palavras. Onde os olhos se fecham para sentir a música. Onde o corpo reage ao ritmo e deixa-se simplesmente levar. Onde a alegria se sente nos sorrisos. Onde a calma máxima é atingida em perfeita alucinação no meio dum concerto, dum bar, duma discoteca, da rua. Gosto de noites assim. Simples, sem constrangimentos pouco gourmet. No ouvido ficou-me uma música cuja letra condiz comigo. "Bebe-se a coragem até de um copo vazio... e vem-nos à memória uma frase batida: hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". Todos os dias. Não me devia esquecer disto.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Papa Nestum

Posso ter poucas certezas na vida, mas que gostava de ter a papa Nestum presente na minha cozinha, essa é uma delas. Quero acordar de noite para aquecer leite. Quero abrir o pacote do nestum com o amor mais incondicional de todos e sorrir no meio do cansaço. Quero embalar um filho nos braços. Quero assistir ao seu crescimento. Ser parte integrante do seu desenvolvimento. Ensinar, guiar... ceder. Quero ouvir risos, correrias e gritos. Quero dar beijos ternos. Quero mimar, compreender, (saber) ralhar. Quero desiludir-me em segredo quando já não for eu a pessoa mais importante da sua vida. Não sei quando, mas um dia quero amar, na sua forma mais honesta… onde mais do que o sangue, o que importa é o coração. Hoje, isto fez-me sorrir e reforçar esta vontade.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Vinho

Tinto: porque há uma constante escuridão presente na minha garrafa. Límpido: porque reflecte os meus olhos totalmente inebriados. Envelhecido: como os muros da cozinha que (por momentos) esqueci terem uma razão para existir. Frutado: porque só o doce de sempre nos tira o gosto amargo que esperavamos sem querer esperar. Aroma intenso: porque não gosto de ter dúvidas quanto ao sabor. Alto teor alcoolico: porque sei que (afinal) nada sabia. Em copo alto: porque, de olhos fechados e sorriso nos lábios, volto a brindar a mim. Quando (ainda acreditava que) era o que menos queria fazer.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Molho de natas com cogumelos

Nunca um molho com cogumelos poderá ser igual a outro que comemos anteriormente. Frescos ou de lata, a textura dos cogumelos muda tudo. Com café ou com mistura de pimentas, o sabor muda. Com mostarda ou sem, a cor nunca será igual. Com vontade ou sem vontade, também isto muda o rumo final do prato. Gosto desta improbabilidade. Cada molho é um molho. Mesmo que seja sempre a mesma pessoa a cozinhar.
Dou por mim envolvida em molhos de natas e cogumelos improváveis onde o que menos esperamos se torna numa probabilidade. Desconhecidos tornam-se conhecidos. Noites calmas transformam-se num carrossel onde me sabe bem estar. Gosto de telefonemas improváveis que me mudam o rumo de um dia e me levam de volta a refúgios onde há muito não ia... para ficar. Agora num carrossel de calma. Gosto da sinceridade desses momentos, dos olhos que, embora tenham entrado na minha vida num passado recente, me conhecem e me fazem sentir viva na minha simplicidade e dúvidas constantes. Simplesmente eu. A rir alto. A comer com a mão. A cantar desafinada. A dar um abraço apertado só porque me apetece. Gosto de dizer: "apetece-me escrever" e em resposta ter um sorriso cumplice de quem me lê nas entrelinhas. Gosto de escrever este post com os copos e ter noção de que amanhã não o quererei apagar porque simplesmente é uma improbabilidade provável... envolvida em molho de realidade. Gosto. Gosto mesmo.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

O (real) prazer de cozinhar

Nunca uma cozinheira poderá esquecer o momento em que abre a porta da cozinha disposta a cozinhar. A verdadeiramente cozinhar. Sabendo à partida dos riscos de fugas de gás. Do lume que poderá acender rápido demais e queimar a mão que carrega o fósforo. Dos ingredientes que, no fim, poderão simplesmente não fazer sentido juntos.

Todos nos lembramos de como é cozinhar um prato sem a expectativa de conseguir atingir uma iguaria no fim. Só pelo prazer de ali estar. De misturar no tacho as cores, as texturas, os sabores, os cheiros… e ver crescer algo novo. A cada minuto. Mexer, hesitar, juntar mais de uma qualquer coisa escondida anteriormente num frasco, levar até ao fim a agradável estranheza de saborear a evolução de um prato que, inevitavelmente, vai ver a sua confecção terminada um dia. E isso não é mau, é apenas a realidade.
É talvez esta sinceridade da cozinha que me faz apaixonar pelos tachos. Não sei se algum dia cozinharei a pensar que no fim vou ter a travessa mais gourmet na minha mesa. Talvez. Mas, até lá, quero apenas sentir esta honestidade imensa de experimentar a força do lume sem ter vontade de o desligar.

segunda-feira, novembro 30, 2009

Chocolate de chuva

Está a chover como no dia em que decidiste ir embora. Passaram horas, dias, meses, anos... tempo, demasiado tempo. Teimosamente continuo a não (querer) me despedir. Egoistamente não ligo para tua casa: Não quero ouvir, na voz de quem me atende, que já lá não estás.
Durante muito tempo achei que não tinhas o direito de ir embora daquela forma airosa e inesperada, sem sequer te despedires. Mais tarde percebi que nunca o poderias ter feito de outra forma: sempre foste o mais forte. Pensei muitas vezes ir ao teu encontro. Nunca fui. Na realidade, ainda não percebi se fará sentido ir. Um dia, talvez um dia, decida meter-me a caminho e falar contigo no silêncio. Mas hoje (e amanhã e depois também) não me apetece chorar.
Hoje comi um chocolate no meio da minha eterna solidão repleta de gente. Lembrei-me de ti. Lembrei-me daqueles bombons do Natal, dos teus olhos a brilhar, da forma como riamos naquela altura. Tive saudades. Nem sabes como. Um dia, seja onde for, vamos falar sobre isto.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Beleza na cozinha

Um dia acordamos e os olhos que ontem tinham começado a perder a ingenuidade, voltam a querer sentir o que de mais belo há à nossa volta. Vejo a mancha de café na bancada da cozinha e não é apenas sujidade: é a presença daqueles que sempre farão parte da minha vida. Não a limpo. Olho pela janela e vejo o nevoeiro. Já me tinha esquecido de como gosto do início do Inverno. Se repente, apetece-me perder-me no meio dele, sem ver nada à minha frente. Afinal, nem sempre temos de ver para sentir.
Vejo as caras que, no meio do stress, têm tantas vezes um sorriso quando eu passo. Almoço com elas, entre piadas brejeiras e percebo que uma gargalhada me enche a alma de cada vez que a dou. Gosto de rir. Gosto mesmo. Faço questão de voltar ao passadiço de um prédio frio ao fim da tarde só para ver as cores do pôr-do-sol que (só) descobri inesperadamente tantos anos depois de ali estar. Sinto o vento na cara, os lábios gretados, o casaco que me roça no queixo… e sei que a natureza será sempre mais forte que eu. E é tão bom que assim seja.
Hoje volto a perceber que a beleza está em todo o lado. Que não quero perder tempo a remoer no que me tolda esta visão. A hesitar, a pensar duas vezes quando me apetecer sugar tudo de forma espontânea. O mundo não pára. Eu também não. Falta apenas saber ver a beleza deste eterno tic-tac.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Envelope recheado com doce

Os bolos sempre fizeram parte da minha gastronomia mais gourmet. Os envelopes, recheados com doce de entendimento, são raros, mas dos que mais gosto. Chego à cozinha quando a noite já vai longa. Encontro um à minha espera. Palavras vindas de Bali. Com cheiro a coco.

“Paulinha (como no fundo tu gostas)
Lembra-te da felicidade que sentiste em Ubud e alivia o teu coração. Acredita em ti. Não tenhas medo. Recorda aquele jantar: ‘Passei anos à procura da chave e a porta esteve sempre aberta’. Se precisares de mudar, muda. Se tiveres vontade de te entregar, entrega. Vive! Sorri!
Viver é maravilhoso. Seja nas montanhas tailandesas, nos campos de arroz balineses ou em Lisboa, lembra-te sempre de ser feliz”.

Decido partilhar esta mensagem porque acho que se adequa a muitos dos que por aqui passam. Palavras simples, escritas de mim para mim. Porque sabia que o regresso a casa estaria envolto em confusão… e porque nunca ninguém nos conhecerá melhor do que nós mesmos. Recebo esta mensagem com várias semanas de atraso (como eu gosto da lentidão da Indonésia…). Pensei que se tinha perdido, mas chega ironicamente no dia em que precisava dela. Deixo de tentar perceber os porquês destes acasos. Mas tiro a conclusão a que tantas vezes já tive de chegar: só eu estarei sempre lá para mim. Não sorrio, mas sabe-me bem ter esta certeza.

terça-feira, novembro 17, 2009

À luz da vela

Tirei esta foto na Tailândia. No topo das montanhas, numa noite iluminada por relâmpagos longínquos e uma pequena chama. Muito tenho falado de comida por aqui. Mas nunca contei a ninguém quais os adereços que gosto quando sirvo os meus pratos. Hoje falo das velas. Seja em momentos de festa, de romance, de oração (secreta), de relaxamento entre os tachos… ou em refeições que simplesmente não se conseguem levar à boca porque para trás ficou a vontade de comer, as velas fazem parte da minha culinária da vida. Porque é no escuro que se dizem as verdades mais difíceis. Mas é à luz de uma pequena chama que se tem a certeza de que o olhar de quem nos fala diz o mesmo que as palavras. E, à mesa, ver esses olhares nunca foi tão importante.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Palavras amanteigadas

Tenho noção de que há muita manteiga na minha cozinha. Só sou uma pessoa rija quando a vida assim o impõe. Sei que qualquer côdea que me peça ajuda, vai ter direito a toda a minha manteiga. Hoje, num desses dias, dou conta que muitas vezes não sei o que fazer com as torradas queimadas da minha vida. Contudo, as palavras amanteigadas para os outros são uma garantia… e esta música é uma constante ao longo da minha culinária. Não sei agir de outra forma. E, na realidade, gosto que seja assim.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Refeição completa

Sopa, prato principal, sobremesa. Na minha cozinha gosta-se de refeições completas. Só nunca tinha percebido que, por vezes, os pratos não combinam. Misturam-se no estomago e deixam-nos às voltas... sem saber se estamos satisfeitos ou não. Como um eterno molho agridoce que nunca se chega a definir na boca. Talvez devesse tentar fazer refeições mais pequenas ou entao ceder ao medo das dores de barriga e não cometer abusos. Mas como diria Caetano Veloso numa das músicas que tenho a certeza ser dedicada a mim: "Me dá um beijo, então. Aperta a minha mão
Tolice é viver a vida assim, sem aventura... Deixa ser pelo coração, se é loucura então... Melhor não ter razão". Gosto da calma. Mas também gosto do risco. Fecho a porta... e volto a abri-la. Desligo o fogão, mas acendo o forno. Sou uma cozinheira contraditória, eu sei. A isto se chama (vontade de) viver. Acho eu.

Sopa de defesas maduras


Lombos de vontade enrolados em massa racional


Delícia de não querer saber

domingo, novembro 08, 2009

Puré

À mesa, todos temos direito a ser puré de vez em quando. A sermos moles. A não querermos ser mastigados, mas sim simplesmente saboreados, engolidos, digeridos com tudo o que de mais intimo e verdadeiro há em nós.
Podemos tentar ser puré duro. Sei do que falo. Juntar menos leite, menos manteiga… mas, e se de repente, nos apetecer acreditar (!) que amolecer é muito mais saboroso? Seja em formato batata, com toda a sua consistência enraizada, ou mesmo em formato maça… tão doce. Não é fácil. (Para quem não está habituado).
Enjoy:

sábado, novembro 07, 2009

Entre tachos... com o super-homem

Olho para a t-shirt amarrotada e não posso deixar de dizer em tom jocoso: “Com que então… Super Man, hein? Devia tirar-te um foto agora!”. Coça a cabeça, mete a mão na anca e, com o cabelo desgrenhado de quem acabou de sair da cama, diz no seu tom inconfundível: “Ainda não viste nada”. Levanta a camisola encarnada e mostra-me os boxers gastos: “Se queres tirar uma foto, junta-lhe o ‘homem-herói’ das minhas cuecas pá!”.
Rio. Como há muito não me ria com ele. Regressar a casa tem destas coisas. Encarar aqueles que não fomos nós que escolhemos ter nas nossas vidas mas por quem, por mais voltas que o mundo dê, temos um sentimento incondicional. Não sei se é amor, mas não consigo não gostar dele.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Cozinha com as luzes (ainda) apagadas

De volta. Sem vontade de acender o fogão (ainda). A tentar perceber como gerir emoções, saudades, momentos que ficarão para sempre na memória. Em lume brando… tão fora do frio do frigorífico onde tantas vezes tento guardar o que sinto. Penso mais em mim. Ainda não sei onde quero estar, mas em todo o lado sei que tenho motivos para ser feliz. O mundo é um lugar bonito… Não consigo chegar a mais nenhuma conclusão. Mas, por agora, é isto que me apetece cantar. Enquanto decido como recomeçar a cozinhar.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Digestivo

Pela primeira vez nao tenho vontade de voltar para a minha antiga cozinha. Nao ha uma ansia por chegar a casa. As saudades, embora muitas, nao me esmagam o coracao. Aqueles que amo estao sempre presentes, disso nao tenho duvidas.
Decido passar o meu ultimo dia desta viagem sozinha. Durmo na praia. Leio. Olho para o mar de Bali e penso em tudo e em todos que conheci durante este mes. Cai o sol, vejo tudo em tons laranja. Filhos e pais brincam dentro de agua como se fosse fim-de-semana. Oico os miudos a rir alto. Sabe tao bem. A calma que experimento enche-me o coracao. Como se tivesse descoberto o meu lugar.
Sei que um dia vou aqui voltar. Talvez volte a chorar sozinha sem qualquer motivo. Apenas porque a emocao paira no ar. Porque aqui me sinto em paz. Como ha muito nao sentia.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Sopa de astros

Na minha cozinha acredita-se que o rumo da nossa gastronomia esta relacionado com a sopa de astros sob a qual nascemos. Talvez por estar a passar por uma das fases mais confusas da minha culinaria da vida, cedo a vontade e acabo numa consulta astrologica em Bali.
Durante uma hora leem a minha vida. Dizem que nesta encarnacao estou ca para aprender a passar a palavra, mas num nivel mais baixo. Consta que sou esperta demais. Que noutras vidas terei tido o dom da palavra... e que nesta tenho de aprender a gerir toda a sabedoria sendo apenas uma rapariguinha num pequeno pais chamado Portugal.
Dizem-me que, por mais que o ponha em causa, o meu trabalho sera sempre preponderante no meu destino. Quero ajudar a salvar o mundo (quem diria?). Ao que parece os meus tachos vao dar que falar. Vou-me relacionar com gente influente... embora nao goste muito de pessoas dominadoras. Vivo, por isso, num constante duelo entre a grandeza e a simplicidade. E ao que parece que nunca vou chegar a decidir...
Diz o mapa que terei filhos. Muitos. Sorrio. Mas tera de ser com alguem que realmente esteja presente, porque a minha vida vai ser sempre um corropio de linhas no meu mapa. Assusto-me. Nao sou grande espingarda nisto do amor. Consta que gosto de pessoas fortes. Com atitude. Que percebam o que me vai na alma... mas que nao me tentem controlar. Que estejam la para me proteger mesmo quando eu faco ar de forte. Nao sera facil.
Diz a sopa de astros que Portugal torna-se pequeno demais cada dia que passa. Ou aprendo a viver por la sem me sentir frustrada... ou sigo para os tres destinos onde o meu mapa astral indica que terei tudo para ser bem sucedida nos mais diversos aspectos: Japao, Indonesia ou Argentina. Nao posso deixar de ter vontade de rir com as opcoes. A vida revela-se ironica quando menos esperamos.

terça-feira, outubro 27, 2009

Pink Treat

Bebo-o numa quinta organica no interior de Bali... entre campos de arroz e cabanas de bambu. Trata-se de um mistura explosiva, mas saudavel: ananas, maca, cenoura, beterraba, limao, hortela, e mel. Tal como o almoco de hoje: Portugal, Canada, Colombia, Franca, Australia e Bulgaria na mesma mesa. Conversas sobre o sentido da vida. O gosto pela viagens. O sentimento de calma transmitido por Ubud. Risos que nao se esquecem. Caras cheias de sonhos simples... depois de ja terem experimentado a dita vida normal a que todos os cozinheiros sao expostos desde que nascem.
Aqui ninguem quer ter um carro topo de gama nem uma grande casa. Todos procuram apenas as coisas simples da vida. As melhores. Aquelas que nos enchem o coracao. Os pequenos momentos de felicidade. Tempo.
Na minha cozinha gosta-se destas grande misturas. De sentir que os tachos estao abertos a todas as pessoas. A todos os momentos. A tudo o que nao vem num catalogo. As coisas reais.

domingo, outubro 25, 2009

Coco

Indonesia. Talvez o destino mais desejado de toda a minha viagem. Sem avental, percorro de carro a longa estrada pouco recta que me leva ate Ubud, no interior de Bali.
Vejo mulheres com idade para serem minhas avos com o peito descaido, sem qualquer camisola vestida (nem vergonha da sua idade). Vejo criancas que cantam na beira da estrada. Vejo sepulturas em jardins, porque (aqui) os mortos estarao para sempre presentes. Sinto uma serenidade como ha muito nao sentia e dou por mim a chorar. Em silencio. Sozinha. Feliz.
No meio de todas estas emocoes impera um ingrediente: o coco. Saudavel e simples, mas sofisticado... como quase tudo em Ubud. Janto comida tipica feita em oleo de coco. Como a melhor panqueca da minha vida... com banana e leite de coco. Sigo a cerimonia de oferendas aos deuses onde sao entregues pedacos de coco. Sou recebida por um canadiano que me leva de mota pelos campos de arroz e me adormece com musica de meditacao e incenso com cheiro a coco.
Perco-me pelas ruas de Ubud. Uma familia de patos interfere com o transito mas ninguem se parece aborrecer. Deixei de querer saber das horas. Leio numa loja "O passado e historia. O futuro um misterio. O presente uma dadiva". Sinto (finalmente) a compreensao dessa mensagem a percorrer-me a mente.
Decido que me devo mimar. Durante uma hora entrego-me a uma massagem balinesa com oleo de coco. Faz-me doer a pele. Mas o cheiro entranha-se como se fosse ficar para sempre. Na Indonesia a minha cozinha passou a cheirar a coco. Quando voltar para Portugal nao sei que cheiro tera. Mas nunca mais podera ser o mesmo.

quinta-feira, outubro 22, 2009

(Pouco) gourmet

A cozinha ficou vazia quando decidi partir por um bocado. Nem o meu coracao la deixei a marinar. Trouxe-o, dentro de uma arca frigorifica entreaberta, em busca de uma resposta que (ainda) tarda a chegar.
Muitas vezes nao sou eu que dito os ingredientes... mas inevitavelmente deixo-me levar com a vontade de chegar ao mais desejado de todos. Talvez o mais simples, mas ao mesmo tempo o mais complicado. Acredito que os sabores que me dizem serao reais depois de alguma prazeirenta cozedura. Sei que nao me devia desiludir, mas desiludo. Sou assim. Concluo que nao ha pratos imaculados. Que a percepcao de uma receita difere de pessoa para pessoa. Mas ha sabores que nunca deveriam ficar amargos. Hoje, o meu ficou. Amanha o gosto sera outro. (Conheco-me).

quarta-feira, outubro 21, 2009

Pad Thai

Mistura-se a massa fina que se entrelaca de mil e uma formas... e que nunca se chega a descolar. Juntam-se os vegetais que tanto sao refrescantes como tambem podem ser picantes e ate mesmo amargos. Salteia-se em molho de soja de uma parte distante do wok para a outra... e por fim juntam-se os amendoins. Por vezes este ultimo ingrediente nem se nota... fica disfarcado la no meio. Mas quando nao esta presente sente-se a falta. Felizmente podemos ser supreendidos com um bocadinho de amendoim ralado.... inesperado, num frasquinho fechado ao fundo da mesa. E, de repente, apercebemo-nos que sem ele o Pad Thai tinha perdido todo o sabor.

Paradise soundtrack:

Arroz cozido

Acordo por volta das 5 da manha em Luang Prabang. Hora de ir alimentar os monges com cestinhos de arroz. Embora nao seja dada a grandes rituais religiosos, embarco nesta missao seguida a risca por tanta gente do Laos.
Vestidos de cor de laranja eles passam por mim. Meto a mao no arroz, faco uma bola e ponho dentro das tacas que cada um transporta. A aragem fresca bate-me na cara. As maos ardem-me... mas nao posso (nem quero) parar. O arroz alimenta-lhes o corpo para depois poderem rezar pelas nossas almas. Nao ha mais comida... So o tao simples arroz.
Apercebo-me que o que alimenta o corpo muitas vezes tb nos alimenta o espirito. Gosto do arroz assim. Sem qualquer ingrediente adicional. E percebo: cada vez aprecio mais as coisas simples. Aquilo que nao tem duplos sabores. O que me faz sentir tranquila. E nao interessa se nao ha colher e temos de comer o arroz com a mao ou ate mesmo com os complicados pauzinhos: o que e simples nao tem de ser facil... apenas genuino. Com sincera vontade.

sábado, outubro 17, 2009

Cafe do Laos

Z: Porque uma mulher bonita e inteligente como tu nao tem namorado?
P: (silencio) Acho que eles tem medo...
Z: Nem mais. Chegaste a essa conclusao cedo, mas ainda bem. Os homens ficam intimidados com mentes brilhantes.
P: Talvez seja por isso que me envolvo quase sempre com homens mais velhos.
Z: Novos ou velhos eles vao sempre sentir inveja de seres bem sucedida. Nao gostam de mulheres independentes... e olha que sei do que falo.

Zahora tem 68 anos e anda a viajar sozinha pelo sudeste asiatico ha tres meses. Ha vinte anos deu a sua primeira volta ao mundo em busca de novos sabores para a sua culinaria da vida. Pelos vistos, ainda continua a querer encontrar mais. Quis o destinos que nos cruzassemos em Luang Prabang. Tres jantares com muitas conversas que podem ser comparadas ao cafe do Laos: forte e genuino. Sem acucar, sem natas... apenas cafe, com o seu lado mais negro, mas tb verdadeiro. A vida, com um grao de cafe num gigante saco onde outros milhoes se cruzam connosco todos os dias.
Mesmo com mais de 40 anos de diferenca, esta mulher revelou ter muito em comum comigo. "Nao ha fronteiras na vontade, depois de as quebrarmos no coracao". Aprendi.

domingo, outubro 11, 2009

(Dizem que os melhores pratos sao aqueles que demoram tempo a apurar. Hoje constatei que isso podera ser verdade.)
Sigo num autocarro rumo ao norte. Perco a nocao do tempo,mas opto por apreciar em vez de desesperar. Vejo templos dourados, campos de arroz. Casas sob estacas, barracoes deixados ao abandono. Velhos parados na beira da estrada, criancas sujas que brincam com nada... felizes. Pessoas sem nome que ficarao para sempre na minha memoria. Ao longe as montanhas... vegetacao que nunca verei no meu pais.
Sorvo cada hora por tras da janela. Cada minuto. Cada segundo... cada frame do meu pequeno filme. Como se tivesse direito a que o (meu) mundo girasse apenas a minha volta durante estes dias. O meu pequeno momento de egoismo.
A noite cai e fnalmente cumprimento o Mekong. Apresentamo-nos rapidamente. Nas luzes espelhadas nas aguas (que parecem paradas) vejo a forca da natureza onde deverei passar os meus proximos dois dias.
Enquanto espero pelo sono descubro que ha internet por aqui. Aptece-me partilhar a alegria que trago no peito. Hoje, nao havia outro lugar onde quisesse estar.

sábado, outubro 10, 2009

Cozinha em ferias

A gastronomia deve estar aberta a todas as realidades. So assim se pode cozinhar com novos aromas... E descobrir quao saborosa a vida pode ser. Com o fogao de ferias, os sorrisos tailandeses sao os ingredientes que mais tenho recolhido no meu caderninho das receitas. Entre incertezas vindas de longe e uma vontade imensa de viver este (meu) momento, estas sao algumas das novas imagens dos quadros da minha cozinha.

domingo, outubro 04, 2009

Noodles de alegria

Cozinhar noodles numa rua da Malasia exige uma arte. Viajar tambem. Diria eu que parte do segredo de confeccao parte de abrir a mente e tentar perceber a importancia de todos os sabores a que nao estamos habituados.
Depois de mais de 24horas em avioes chego aos noodles de Kuala Lumpur, onde se mistura o caos dos molhos de ostra de uma grande cidade, com a imensidao verde de uns arredores onde a vegetacao mais parece uma densa selva. Como nos melhores pratos, a simplicidade tem um aroma especial.
Entre contratempos, acabei por sair de Lisboa com um sorriso. Pela primeira vez tento seguir um conselho e nao olho para tras. A cozinha pode ter a luz desligada, mas os que fazem parte de mim continuam la. E ca tambem. Mas os noodles, recheados com alegria, nao devem ser esquecidos. E neste momento, sinto-me assim:

quarta-feira, setembro 30, 2009

Relógio da cozinha

Tic-tac. Tic-tac. Os ponteiros do relógio da minha cozinha passam segundo a segundo, à espera de ouvir o apito final a reclamar que desligue o fogão e dê por finda a confecção de mais um prato. Mas e se, de repente, eu achar que afinal quero que tudo fique um pouco mais passado? Ou, pelo contrário, achar que já passou demais? Ou pior: se achar as duas coisas ao mesmo tempo, porque no tabuleiro que está no forno os ingredientes tinham consistências diferentes e eu simplesmente não dei (logo) conta?
Há algo de impiedoso no relógio do fogão. Como se nos tirasse a espontaneidade para temperar a bel-prazer e mudar o rumo do sabor final. Sabor que, pensando bem, também pode ser alterado já quando a comida chega à mesa e fica à mercê do galheteiro.
Por estes lados o tic-tac tem sido constante, 24 horas por dia, como se na minha cozinha não houvesse mais tempo e eu tivesse de decidir um menu gourmet como quem manda vir um prego no pão. Não gosto. Volto ao lume brando e dou tempo a mim mesma. Faço as malas e penso em como, por vezes, é bom partir. Pela frente, quando voltar, tenho todo o tempo do mundo.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Delicia preto no branco

Numa taça funda misturamos camadas intercaladas de verdades de nata e decisões de chocolate. Preto no branco, sem confusões, a não ser quando chega ao (recato escondido do) estômago. É uma sobremesa que se serve a frio… mas depois de já ter passado pelo lume. Exige coragem para começar a intercalar as camadas. A sinceridade do preto no branco assim o obriga.
Nos últimos tempos dei por mim a servir esta sobremesa mais do que uma vez, a pessoas diferentes e situações distintas. Como se a verdade fosse o ingrediente mais ansiado na minha cozinha. Como se eu andasse em busca da minha própria verdade. Mesmo que, por vezes, o travo final possa ser amargo.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Caixa de tâmaras

Lembro-me de ser um festim cada vez que o meu avô comprava tâmaras. Era uma iguaria rara naqueles tempos… por isso mesmo, especial. Era com alguma ânsia que as esperava e, quando ele não as trazia durante muito tempo, a desilusão era inevitável.
Durante muitos anos de cozedura, uma tâmara foi um vaivém nas minhas prateleiras. Ora aparecia na caixa mais bonita, ora tornava a ir embora quando eu me começava a acostumar-me novamente ao sabor da sua presença.
Hoje em dia apercebo-me de como essa tâmara continua presente na cozinha da minha mente nos mais variados formatos. Uma necessidade constante de saber que as tâmaras vão lá estar, mesmo que eu nem sequer saiba se as quero realmente comer. Voltar a não ter a amarga surpresa de a ver ir embora quando se torna especial.
Tendo a noção de que na culinária da vida não há certezas absolutas, um dia terei de resolver isto.

domingo, setembro 20, 2009

Pão e manteiga. Cerveja e tremoço. Azeite e vinagre. Sal e pimenta. Na culinária da vida há atracções inevitaveis. Umas surgem tarde, outras acontecem cedo demais. Independentemente da rapidez, apanham-nos sempre desprevenidos. E por mais voltas que se tente dar no tacho, elas acontecem... e permanecem. Mesmo quando tentamos desligar a luz da cozinha.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Paulinha no passador

"Ou você anda ansiosa, ou está quase a bater a bota".
O veredito de uma médica, em plena consulta do viajante. Sem direito a auscultação.
As minhas mãos suadas, as olheiras e as insónias já não mentem: estou a rebentar pelas costuras. Um verão inteiro sem folga nos refogados da escrita, deixou-me assim. E entre antevisões de pitadas de malária, febre amarela, poliemite, hepatites e até mesmo a gripe dos porcos, preparo-me para ir em busca de sabores exóticos na outra ponta do mundo. Quero lá saber se vou com os braços feitos num passador... quero é chegar lá e começar a explorar as prateleiras de iguarias que me esperam.

domingo, setembro 06, 2009

Intensidades do lume

Na culinária da vida a intensidade do lume do fogão deve ser regulada com inteligência. Há uma facilidade estrondosa em queimarmos alimentos ou até mesmo a mão que tempera.
Há pratos que nem sequer deviam ir ao lume, sob risco de ficarem estragados. Há outros que, depois da fervura, deviam entrar directamente no frigorífico para enrijecerem sem qualquer possibilidade de amolecerem… porque não é essa a sua essência. Têm-me dito que estou obcecada com o controlo. Eu diria que é apenas bom-senso gastronómico.
Vejo-me constantemente a braços com isto das medições do lume. Arrisco brincar com o fogo, quando sei que há uma possibilidade grande de estragar parte da refeição. Por outro lado, deixo despropositadamente(!) a porta do frigorífico aberta e quando dou conta há mais pratos moles do que rijos na minha cozinha. O que fazer com eles é que não sei. Para já, “nada” parece-me a resposta certa. Só não me quero é queimar.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Pitadas de...

Porque na cozinha é preciso uma pitada de altruísmo de vez em quando. Porque prefiro pratos doces do que amargos. Porque perdi a paciência para aturar (todos) os molhos agridoces que nunca serão nem uma coisa nem outra. Ando demasiado ocupada para desperdiçar tempo em receitas antigas. As novas sabem muito melhor.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Papo-seco

Ao pequeno-almoço, ao almoço, ao jantar, ao lanche, à ceia… ou sempre que der a fome, na minha cozinha tem-se optado pelo papo-seco (o termo carcaça é feio). São muitos os que me perguntam: “Porquê papos-secos?”.
Ora bem, cada vez que opto por pães-de-leite o meu estômago dá-se mal. São demasiado moles. Falta-lhes consistência. O sabor doce é demasiado fugaz. Já os papos-secos são habitualmente rijos. Pães com conhecimento, sabedoria da culinária da vida (a melhor de todas). Embora com uma aparência à partida mais tosca, revelam-se delicados e abertos às mais doces compotas e marmeladas. A simplicidade com que encaram as refeições é um desafio, assim como a atitude decidida perante os restantes membros da padaria. Seja à mesa ou embrulhados num guardanapo, sabem estar em qualquer lado. Fazem o meu estômago sentir-se seguro. E só quem ainda não experimentou é que põe em duvida a sua capacidade calórica.
Cada vez tenho menos paciência para pães de leite. Lamento.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Fruta ao natural

Este post esteve para se chamar “salsicha fresca”, mas quando descobrimos o lado mais saboroso de um prato, ser jocoso não cai bem no estômago.
Descobri o prazer da fruta ao natural. Juntam-se bananas com meloas… sem casca, nem revestimentos de açúcar. Laranjas com mamão, peras com pêssegos carecas. Sem preconceitos.
Há algo de libertador na fruta ao natural. É como saborear o que de mais fresco temos na cozinha e nunca temos a ousadia de provar. A mim soube-me bem. A partir de hoje, o avental está dispensado.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Felicidade em castelo

Houve tempos em que o conto de fados era a minha realidade. Alegria misturada com excentricidade, numa casa onde a felicidade era batida em castelo. Nessa altura cozinhava-se ao som de guitarradas. Há muito que não me lembrava disto e uma banal conversa no msn acabou por me fazer lá voltar. Por um momento, revi-me naqueles castelos. E com os olhos a brilhar, senti saudades.


quinta-feira, agosto 13, 2009

Algodão doce

Leve… sem nenhum peso que não se desfaça na boca em segundos. Colorido… para fazer os olhos sorrir. Feito apenas de açúcar cristalizado… com o brilho que nestas coisas se quer. Doce. No fundo, tudo se resume a isto:

quarta-feira, agosto 12, 2009

Bolo de caco

Há semanas em que somos amassados de todos os lados. Nunca percebi muito bem se era essa a receita do bolo do caco, mas acho que se enquadra.
No único dia do ano em que me dou ao luxo de ficar doente e ir para casa enfiar-me na cama, surge o telefonema que ninguém quer ouvir. É o número da mãe e atendo com um impaciente “diz lá”. Do outro lado, uma voz masculina: “Olhe desculpa lá mas a sua mãe desmaiou no meio da estrada e não consegue falar”.

Não me lembro de como atravessei a cidade, mas fui rápida. Demais. Seguiu-se uma noite no hospital, mil e um exames e uma dose de mimos extra em que me tornei perita ao longo dos anos. No esquecimento ficou o facto anual de eu estar doente.
Com todas as preocupações do mundo concentradas no meu estômago de caco - misturadas numa pitada de exageros e umas belas doses de anti-inflamatórios - acabo por ir ao médico de família que, pela primeira vez na minha vida, me examina. Veredicto: já estive mais nova… e com uma úlcera a menos. Mas a cozinha continua a funcionar… as usual…

segunda-feira, agosto 10, 2009

Uma questão de liberdade gastronómica

Há pequenos gestos que demoram muito tempo até que sejamos capazes de os fazer. Apagar um nome do menu, por exemplo. Ou desligar o telefone e restantes meios de contacto, de forma a deixarmos de atender pedidos descabidos fora de horas. Quem sabe, também ocultarmos da lista do supermercado aquele ingrediente que invariavelmente ainda nos incomoda porque simplesmente continua visível onde menos esperamos.
Mas quando o conseguimos fazer – e acreditem que é mais difícil do pode parecer – há uma sensação de liberdade incrível. Como se voltasse a ser capaz de ver. Ver. É o que eu acabo de sentir.

sábado, agosto 08, 2009

Quinta da Aveleda

Uma tarde fora de folga da cozinha. Juntam-se dois companheiros de alhadas e, numa praia algures na Arrábida, inicia-se uma espontânea viagem aos sabores da Quinta da Aveleda. Uma viagem: duas línguas a ficarem mais rápidas e o raciocínio mais lento. Duas viagens: muitas gargalhadas e telefonemas disparatados. Três viagens: o caldo entornado… na vertigem da estrondosa amizade que os une. Confissões que não se repetem. Uma alegria que, embora alcoólica, é verdadeira. Mesmo com ressaca… Impagável.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Al Dente

Não há cozedura que me deixe em papa. Nem azeite que me faça escorregar até cair da travessa. Não esquecendo a idade que tenho (algum dia tinha de ser), sinto-me "al dente". Com vontade de cozinhar cada prato como se fosse o último. Cheia de sonhos. Mas rija, como sempre mostrei (ter de) saber ser. E, pelo meio, em busca de um molho que me faça amolecer.

terça-feira, agosto 04, 2009

Coração de manteiga

Chega o calor o o meu lado mais amanteigado continua guardado no frigorífico. O que em tempos se derreteu até ficar coalhado, está agora a salvo das altas temperaturas. Sem qualquer Primor.
Resisto a queijos amanteigados e acabo por deixar-me tentar apenas por situações em que não tenha de ser Mimosa. Mas rapidamente concluo (novamente) que não fui feita apenas para comer: gosto de meter a faca, barrar, cheirar e por fim saborear.
Mais do que frio, o meu coração de manteiga está vazio. O que de azedo cá estava, saiu. E sem ninguém que me faça perder o sono, olho para o relógio da cozinha sem perceber onde andará o meu original fire... o lume permanece apagado.

quarta-feira, julho 29, 2009

Martini... com gelo

Já aqui falei por várias vezes sobre o quanto me agrada a degustação de vinho do Porto. Desta vez, o dedo cai-me para o Martini.
Há algo de agradavelmente surpreendente nesta bebida que se revela à média luz. É discreta, tem classe, envolve o gelo lentamente, quebrando qualquer barreira existente entre os dois compostos. De uma forma estranhamente rápida. Não me deixa inebriada, o que facilita qualquer entrega ao copo, sem pudor. Gosto destas bebidas que não me deixam melancólica… nem com a cabeça à roda. O Martini, em garrafa XL (como tanto aprecio), passou a ser bem-vindo nesta cozinha.
Sem qualquer ressaca, volto a vestir o avental e penso se não deveria voltar a tentar beber água. A sede, essa continua cá.

sábado, julho 25, 2009

(in)Digestivo

Parola 1 – Paulinha, se nos safarmos desta vamos a Fátima!
Parola 2 – Bom, que seja. Vamos a Fátima!!

E não é que agora vou ter de ir a Fátima, mesmo sendo a maior herege de todos os tempos?
Um jantar de bradar aos céus como entrada, demasiadas garrafas de vinho e caipirinhas de leite de coco como prato principal, uma operação stop como sobremesa… e, como (in)disgestivo, um carro eternamente sem inspecção.
Uma cara de santa, um pisca decidido para fingir que não estou prestes a ficar com a digestão parada e… o polícia manda-me seguir em frente.
Felizmente não nos lembrámos de dizer que íamos de joelhos… mas um almocinho no Tromba Rija já ninguém nos tira! Amén…

quarta-feira, julho 22, 2009

Ananás açucarado

Acordo e tenho um ananás na bancada da cozinha em jeito de prenda de aniversário. É a minha fruta preferida e isso faz-me sorrir. Embora não seja um presente habitual, já me habituei às suas excentricidades.
À sua maneira, esta foi a forma de me dizer que agora está mais por perto e (finalmente) um pouco atento ao que gosto de saborear na minha cozinha. Longe vão os tempos em que me deixava à porta da escola à espera de um prometido almoço de aniversário que não chegava a acontecer. Na mesa ficava sempre um lugar vazio.
Podiam-me dar o mundo, mas os pequenos gestos serão sempre aqueles que mais tocam este meu coração de manteiga. Em imitação aos recados maternos, que se tornaram um hábito ao longo dos piores anos, lá estava o bilhete pendurado no ananás: “Parabéns menina Paulinha. Um beijinho do pai”. Soube-me bem.

terça-feira, julho 21, 2009

Fogão vs Bimby

As novas tecnologias tanto têm de bom, como de mau. Eu diria que não há nada com um forno a lenha, lento, que exige paciência, destreza… mas cujo sabor final que proporciona aos petiscos é inconfundível. Um fogão acelera um pouco as coisas, mas continua a exigir a presença constante e o bom-senso. A mim agrada-me. Acho que fui feita para meter a mão na massa.
Depois chegou a bimby. Tritura, coze, mistura… a 100 à hora, tudo ao mesmo tempo, sob programação. É de uma intensidade estonteante…. O produto final até é bonito, mas o sabor do desafio perde-se pelo meio. Fica a faltar o toque. A mãozinha que tempera...
Diria que é uma bela opção para quem tem medo da cozinha. Para quem prefere as novas tecnologias para amassar mensagens gastronómicas que não tem coragem para dizer em pleno fogão. Umas vezes por cobardia, outras porque simplesmente receia acabar com o tacho queimado. Dispenso (para não dizer abomino) a cobardia. Quanto ao receio, lá vou brincando com ele… enquanto me faz rir.

segunda-feira, julho 20, 2009

Bolo de Paulinha

Bolo. Faço anos e é assim que me sinto. Para o bem e para o mal.
Na vida sou aquela que recebe… com um prazer que talvez torne a hospitalidade no rumo da minha vida. Sou aquela celebra as pequenas alegrias dos outros… e as minhas também. Imprescindível no que toca a casamentos… continuo óptima a fazer caldinhos.
Em alturas de depressão alheia sou uma fatia de optimismo … Mesmo que o meu esteja reduzido a migalhas. Sou tradicional como um pão de ló… mas ao mesmo tempo um bolo/pudim/bolacha num só, cheio de cores e sabores misturados.
Sou uma companhia morna ao pequeno-almoço (continuo a ter dificuldade em falar quando acordo), mas ao jantar sei ser uma sobremesa fresca… com recheios de conversas que podem durar até à seia.Sou um bolo que já foi muito amassado… mas que nunca perdeu a doçura. E que continua a crescer para fora da (habitual) forma da culinária da vida. A cereja, essa ainda a ando a procura-la.

sábado, julho 18, 2009

Tablete de chocolate (de)leite

Depois da importância do "V" ( quarto Vigor? :p), chega à minha cozinha, pela voz de um homem, o recém tema da tablete de chocolate. Dizem as vozes masculinas que é preciso trabalhá-la até ficar recheada de avelãs. Nunca tinha pensado muito nisso, até porque deste lado controlar as regueifas também nem sempre é fácil. Mas na verdade faz a diferença quando chega a hora de derreter sob a chama do fondue…nada como ter algo para trincar!
Seja tablete branca ou preta, sempre achei que o recheio era o que mais interessava. Nada como um caramelo que sabe ficar bem colado quando assim é preciso! Contudo, por mais chocolates que coma, a tablete (de)leite será sempre a que mais gosto. Simples... De servir e de comer.

segunda-feira, julho 13, 2009

Franga com aroma de serenidade

Pondo de lado qualquer ideia louca de dieta, há alturas na vida em que soltar a franga não é a melhor opção. Por mais que as malaguetas da dita no espeto tenham a sua piada, há todo um vazio que fica no fumo do churrasco. E de repente, quando menos esperamos, percebemos que (sem molhos de pimenta verde) há versões mais tranquilizantes para cozinhar a franga... mesmo ao nosso lado. Refogados que surgem do nada. Aromas que nos deixam simplesmente calmos.

Concluo que quando não queremos sequer voltar a olhar para o menu, acabamos novamente em alhadas. Só me falta saber o que fazer agora. Não estou habituada a marinar em serenidade.

segunda-feira, julho 06, 2009

Vinho verde em cálice de cristal

Tal como o vinho verde numa tarde quente de verão, a vida também se encarrega de nos tirar a sede quando estamos prestes a vacilar. De repente a boca refresca e percebemos o quão efémera a sede (nem sei bem de quê) pode ser. Descem na garganta os motivos da tristeza. Sentimo-nos alegres porque a vida é uma caixa de constantes surpresas. E mesmo que neste momento eu (ainda) beba o vinho num cálice cristal, sinto-me assim:

sábado, junho 27, 2009

Suspiros com molho de "soulstorm"

Numa semana de revolução interior, volto a sentir: não quero ficar para sempre agarrada aos tachos com que cozinho actualmente. Comida portuguesa não fará também para sempre parte do meu menu. A aventura gastronómica passará por outros sabores, estou certa. Não quero estar demasiado longe, mas também não quero estar cá por obrigação. Jornalismo faz as minhas delícias, mas todo o stress e competição que acarreta não fazem parte dos ingredientes que ambiciono no meu prato a longo prazo. Quero desafio, mas também simplicidade. Concluo que só depende de mim.
O prazo está marcado. Desde ontem. Até lá, é tempo saborear os obstáculos inerentes à vontade de mudar. Com Patrice a quebrar o silêncio esmagador dos meus pensamentos, foi em verdadeiro “soulstorm” que ontem à noite suspirei às escondidas.

quarta-feira, junho 24, 2009

Especiarias de Marrocos

Especiarias de Marrocos a reter (para sempre) na memória:

- A mistura de cores, sons, cheiros e pessoas na Praça Jema el-Fna
- As estradas cujo fim é no infinito
- O silêncio esmagador do deserto
- As gargalhadas indescritíveis do nómada Omar a quebrarem o silêncio do deserto
- O sorriso aberto do Simo e de toda a família
- O passeio de mota nos subúrbios de Marrakech
- A noite passada a ver as estrelas no terraço no hotel da Garganta do Dadre
- As crianças… aquelas crianças
- As negociações no souk
- A maravilhosa sensação de andar perdida na Medina de Marrakech
- A imponência do Grande Atlas
- Andar à chuva no meio do calor
- As dores no rabo depois de duas horas num camelo
- A refeição onde partilhei o prato com outras dez pessoas
- O cd que ouvi 8 horas em repeat porque não havia outro…
- Os abraços na despedida :)
- A frase a marcar o regresso: "O consulado do meu coração não te dá visto de mais de uma semana fora daqui"

segunda-feira, junho 22, 2009

Couscous marroquino

Amarelo como o sol, picante como o que de melhor tem vida. Vegetais como recheio saudável de um dia-a-dia onde a felicidade existe mesmo quando se tem pouco. Deve comer-se com as mãos, partilhando com família e amigos um único prato de barro. Sinal da união, simplicidade e partilha que reina em cada casa, seja em montanhas rochosas ou em areias do deserto. Entre mulheres de rosto tapado e homens com ar supostamente austero, em Marrocos é assim. E só quando se entra no seio familiar desta gente é que se percebe a sua essência… que afinal é tão doce como uma tâmara.
Na bagagem, foi com lembranças de abraços, sorrisos genuínos, negociações acesas e gentileza sem limites que voltei a Portugal (mais uma vez) com a certeza de que não fui feita para viver naquilo a que chamamos de primeiro mundo. Para mim, a vida será sempre como cozinhar couscous marroquino. Simples.

quinta-feira, junho 11, 2009

Caracóis

Se numa panela de pressão cozinharmos uns belos quilos de caracóis, a lentidão intestinal é garantida. Posso juntar oregãos, picante... molhar o pão com avidez, mas a vida passa-me à frente dos olhos lentamente, como se me obrigasse a rever os erros, os enganos e as mentiras que nunca realmente quis ver.
Enquanto (im)pacientemente mexo os caracóis na panela, sinto-me em slow motion. Como se o dia-a-dia de repente tivesse ganho outra velocidade... e tudo me parece lento demais. Há uma ansia novamente a ferver em mim.
Apercebo-me da minha capacidade de dar. Quando realmente quero, sou capaz literalmente de atravessar o mundo. Hoje, atravessar o Tejo parece-me longe demais. Estarei azeda? Ou será que o meu coração também ficou mais lento? Pode ser que o deserto me dê a resposta.

quinta-feira, junho 04, 2009

Agua das Pedras Vs Gin Tónico

Numa altura em que devia andar a beber água das pedras começo a perceber que o gin tónico é melhor opção para manter a cozinha no seu nível mais gourmet. Na verdade, não gosto de perder tempo a tentar usar pedras para resolver os meus problemas de estômago. Prefiro a frescura da subtileza e um pouco de tonificação mental. Ao estilo de Chris Isaak: “I did a bad, bad thing… and (don’t!) feel like crying”.

terça-feira, junho 02, 2009

Alheira (de caça)

É engraçado como os alimentos que mais respeitam o nosso trânsito intestinal são aqueles com que fazemos os maiores abusos. Uma alheira (de caça) não tem digestão fácil, mas o certo é que a satisfação que me continua a proporcionar vai muito além da gula. Há um respeito genuíno para além do picante. Uma vontade real de estar no meu prato naquele momento. Mesmo que para ambos seja apenas um banquete rápido de emoções.
É essa sinceridade, sem duplos sentidos, que me faz ser fã da alheira (de caça) e deixar definitivamente de criar expectativas com saladas, sejam elas de longos espargos insonsos, ou de repetitivos pepinos que (ainda) só se sentem confortáveis na horta.
Para compensar a indigestão do cansaço, por aqui voltou-se à era dos exageros. Mas só com aqueles que sabem aprecia-los devidamente.

quarta-feira, maio 27, 2009

Respirar fundo... com um aperitivo gourmet

Dei 24 horas a mim mesma para reagir e esta música chega em formato de aperitivo. Como uma série de tostinhas com paté de carangueja para respirar fundo... da forma mais gourmet possível.


PS - Agradecimentos à outra menina carangueja que me deu a conhecer esta pérola ;)

terça-feira, maio 26, 2009

Empadão de Paulinha


Parei ontem por 30 segundos quando entrei no carro e descobri que estou cansada. Como se viesse a acumular camadas e camadas de diferentes cansaços num empadão. Durante muitos anos fui um pilar precoce numa família descontrolada. Geria horários e refeições quando ainda devia estar a aprender a fazer o meu primeiro ovo estrelado. Pedia empréstimos para pagar dividas ao Estado daqueles que me deviam estar a ensinar a preencher o meu primeiro IRS. Participei na educação dos primeiros anos de uma criança… quando ainda nem tinha maturidade para sequer pensar em bebés. Tinha dois empregos ao mesmo tempo, para conseguir pagar um curso feito em simultâneo. Extenuada, dei início a uma segunda carreira ainda mais extenuante. As responsabilidades e horários cansativos aumentam. A recompensa económica, essa chega a conta gotas. Há quem diga que tudo isto me deu a dita estaleca. Eu digo apenas que me sinto cansada.
Nos últimos tempos (talvez oito meses) dou por mim simplesmente incapaz de agir naturalmente nas habituais responsabilidades. Entregar um IRS a tempo, cumprir um prazo de inspecção do carro, pagar contas em atraso. É como se tivesse tido um bug no meu sistema interno de organização. Tenho insónias, viajo como escape e, embora não me sinta de todo infeliz, tenho muitas vezes vontade de arrumar as botas. E começar de novo.
Sou optimista por natureza e não gosto de me sentir assim. Encaro tudo com um sorriso mas se calhar chegou a altura de perceber que não sou de ferro. Como diria um livro da Anna Gavalda, "queria ter alguém à minha espera num sítio qualquer". Que dissesse apenas: descansa um bocado, agora trato eu de tudo.

segunda-feira, maio 25, 2009

Lameixas

Porque às vezes “in a little while” diz-se e sente-se mais do que em anos de tentativas. E porque ainda acredito em “little whiles” que podem durar uma vida inteira. Culinariamente falando, hoje estou assim: lameixas!



Talvez a melhor versão ao vivo desta música...

domingo, maio 24, 2009

Tomatada

Os meus amigos andam preocupados comigo. Temem que me meta em novas tomatadas que me deixem em formato de pacote de ketchup. Não posso deixar de achar bonita esta preocupação. Conhecem-me. Sabem o quanto os meus tomates de rama já foram postos à prova. E quase me dá vontade de chorar ao perceber a forma como anseiam que isso não torne a acontecer.
Quando abro a couve coração a um prato (o que acontece raramente) há algo de irracional no meu fogão. Pelo menos foi assim da última vez. Hoje, em confesso estado acelerado de vinha d'alho e ervas aromáticas no meu refogado, compreendo o quanto já errei ao acreditar em pitéus que nunca terão mais do que uns tomates cherry. Por isso mesmo, minha gente, descansem. Por aqui, agora só tomatadas que valem a pena. Com rama de gente que sabe o que quer.

sexta-feira, maio 22, 2009

(de)Leite

Descobri cedo que era fã do (de)leite. Sem grandes complicações, porque nestas coisas da saúde gastronómica não se brinca: é dos alimentos - do corpo e da alma - mais naturais e completos a que nos devemos sujeitar.
No verão, nada como o (de)leite fresco. No Inverno, viva o (de)leite quentinho por baixo do edredão. Para uma vida saudável, nada como o (de)leite do dia… nem que seja em formato de batido quando as forças não imperam na cozinha.
O (de)leite condensado é, contudo, o que mais tem andado na minha mesa. Calórico e intenso, com elevado grau de satisfação momentânea. Mas tenho noção que os abusos me poderiam levar a ter de fazer dieta. E eu odeio restrições alimentares.
Às vezes sinto vontade de voltar ao formato (de)leite-creme. Doce e consistente. Simples e com queimadelas açucaradas(!) quando assim tiver de ser. Quem sabe, com o (de)leite Matinal que tanto me agrada... obviamente, com muito Vigor.



Frase premium do (de)leite: "If you wanna be bad you gotta be good..."

quarta-feira, maio 20, 2009

Esperas apuradas?

Há quem passe a vida inteira à espera do ponto certo para pôr uma decisão a refogar. Há quem, continuamente, diga que “ainda não é o tempo” para mexer com a colher de pau aquilo que está mal. Há também quem espere eternamente pela temperatura ideal para juntar um ingrediente experimental no tacho… e acabe por nunca o fazer com receio de estragar aquilo que já é seguro. Há ainda quem espere, mesmo sabendo que isso nunca fará apurar qualquer tempero.
Sempre achei que há um tempo para tudo e tento gerir isso com bom-senso. Mas a vida ensinou-me, nuns quantos assados, que simplesmente não espera por mim. Não pára. Não tem um travão para eu accionar quando me dá jeito. Entre frigideiras queimadas e tampas rachadas, acabei por perceber que, na maioria do casos, esperar é uma perda de tempo. E eu não tenho tempo a perder. Porque na minha cozinha vive-se. Todos os dias, cada vez mais.
Estou (novamente) a mudar. É tempo disso.

terça-feira, maio 19, 2009

Entre atuns

O atum sempre fez parte das prateleiras da minha cozinha. À posta ou em lata, não o consigo evitar. Embora o ideal fosse comer sempre o “Bom Petisco”, confesso que de vez em quando (inexplicavelmente!) me fogem os olhos para os “Ramirez”… que trazem espinhas escondidas. Quando ando em poupança emocional opto pelo atuns de linha branca que, invariavelmente, são uma bela surpresa gastronómica. E, embora nem sempre o atum seja um “Pitéu” que faça bem ao estômago, vou acumulando postas dele na minha culinária da vida. Em grandes ceboladas...

domingo, maio 17, 2009

Expressões ... gourmet!

Na cozinha há frases que marcam (repetidamente) a confecção de qualquer iguaria mais atribulada. Por hábito, ou não, os cozinheiros que me rodeiam usam expressões que considero simplesmente gourmet. Marcos gastronómicos com que vivo diariamente:

- “Pois, não sei” (o eterno indeciso)
- “Resolvo isso depois” (a eterna acumuladora de problemas inesperados)
- “Ya, ya + risinho prolongado” (o eterno farrusco despreocupado)
- “Caguei” (a eterna descontraída)
- “O que é que queres que eu faça?” (o eterno inútil)
- “Que seca” (o eterno descontente)
- “Que se foda” (a eterna Paulinha…)

Ps - Este é talvez o post mais idiota desta chafarica, mas não resisti a eternizar as expressões que esta semana já me proporcionaram lágrimas e gargalhadas.

sábado, maio 16, 2009

O buraco dos donuts

Um buraco vazio. É esta a definição que, a meu ver, mais se adequa a uma morte. Talvez por isso não estranhei quando nos últimos dias ouvi a frase: “Sinto-me como se fosse um donuts”.
Temos por hábito dizer que não há insubstituíveis. Que valente palermice, digo eu. Todos nós somos insubstituíveis, porque todos nós temos algo de único. Nem que seja para uma pessoa só.
Depois de uns dias de reflexão sobre este tema, não posso deixar de pensar que a morte nos bate à porta de infinitas maneiras, sendo que todas elas nos transportam para esse vazio que tem pouco de açucarado. Perder alguém não é fácil de digerir… é como tentar fazer a digestão de um pedregulho. Por vezes, simplesmente nunca se faz.

quarta-feira, maio 13, 2009

Tripas do coração, à moda do Porto

Houve uma altura em que pus em causa se o Porto não poderia fazer tripas do meu coração. Rapidamente cheguei à conclusão que essa hipótese simplesmente não se punha. Nem se põe.
Sem “finos” à mistura (não fazem falta, verdade seja dita…), concluo que a minha relação com o Porto tem algo de eternamente vintage. Gosto genuinamente das caves e do seu lema certeiro: quanto mais velho, melhor. Porque simplesmente há vinhos que, amadurecidos (e sem expectativas alcoólicas), nos fazem sentir tranquilos. Depois de mais uma visita por aquelas bandas foi dessa forma que regressei a Lisboa. Ao som da Aretha.

domingo, maio 10, 2009

Ovo estrelado com cabelos brancos

No dia em que se consegue pela primeira vez estrelar um ovo há dois caminhos possíveis: o da degradação ou o da sabedoria. Quando se consegue finalmente ser mestre nesta iguaria corre-se o risco de cair no desleixo e ficar por aí. Por outro lado, a perfeição na cozinha abre-nos portas para a sabedoria e investimento em receitas que exigem calma.
Chego a esta conclusão no dia em que encontrei o meu primeiro cabelo branco. Arranquei porque sempre disse que queria chegar aos 25 sem grisalhos… a vida parece que assim não o permitiu. Só ainda não percebi se finalmente vou ter alguma (verdadeira) sabedoria.

Um aparte na cozinha

É curioso como alguém pode estar presente na nossa vida durante um bom período de tempo e nunca nos chegar a conhecer totalmente. Partilhar conversas, intimidade, segredos. E no fundo nunca ter estado presente no essencial. Não se chega a esta conclusão com rapidez. E é triste quando se lá chega.
Mais curiosas são, contudo, as surpresas que a vida transporta diariamente. Pessoas que surgem do nada passam a fazer parte de nós por umas horas. Uns dias. Pessoas que, sem qualquer esforço ou expectativa, acabam por descobrir partes de nós que os outros não chegaram a ver. Gosto. Principalmente da sensação de (voltar a) ser simplesmente eu própria. Priceless.

sábado, maio 09, 2009

Mão de vaca

Nunca tive muito jeito para este prato. Sempre fui a “boa onda”, a “rapariga com o sorriso na cara”. Na realidade, não gosto de discussões ao fogão. Com uma dose nata de bom-senso (e nisto posso puxar a brasa à minha sardinha sem me sentir constrangida) zelo sempre pelo bem-estar de todos os frasquinhos da minha cozinha. Cada um à sua maneira, porque cada especiaria é única.
Esta semana senti, como há muito não sentia, que esse cuidado não foi tido comigo. Que quem tinha por obrigação poupar-me ao vinagre de recordações antigas - que nem mesmo o maior recheio de perdão consegue fazer esquecer - simplesmente não o fez.
Senti-me zangada… ai se me senti. Tive vontade de gritar, atirar os tachos pelo ar, voltar a fechar-me na despensa do rancor de onde tive de aprender (sozinha) a sair. Como em todas as situações, fui a “chef gourmet” que acho que já todos esperam que eu seja. Eu incluida. Levantei-me e saí. Porque o silêncio muitas vezes vale mais que mil palavras. E eu não sou lá grande coisa nisto da mão de vaca.

quarta-feira, maio 06, 2009

Petiscos na União

Estava eu num daqueles arraiais maravilhosos do 1 de Maio e, enquanto comia a bela da entremeada, reparei no nome da tenda: "Petiscos na União".
Muito aqui se tem falado de culinária associada a sentimentos, sejam eles gourmet ou do mais saloio que há. Mas nunca uma expressão gastronómica conseguiu resumir tão bem aquilo que eu procuro, como fez este nome de uma simples barraca, com gente a cheirar a churrasco.
Sejam eles petiscos complicados, picantes, azedos, salgados, doces, exóticos ou, até mesmo, simplórios, é em união que os devemos cozinhar e comer pela vida fora. Faz muito mais sentido. Eu (ainda) acredito que isso exista e que, afinal, não seja assim tão complicado. Basta um companheiro de jornada à altura.

Refresco nocturno

Se num ponto de encontro do centro lisboeta juntarmos uns mini travesseiros de Sintra, uma caixinha de rebuçados de Portalegre, mini queijadas e ainda uns quantos mililitros de café saboroso… chegamos a um iluminado “Refresco”, em formato de quiosque ali prós lados do Camões e do Príncipe Real.
A ideia é deveras fabulosa para pessoas que, tal como eu, gostam de jantares tardios e saídas diárias, nem que seja para uma conversa rápida com amigos ou apenas para sentir a cidade numa curta caminhada nocturna. Estes quiosques (abertos até às 1 da manhã!) foram uma excelente ideia, é o mínimo que posso dizer. Já sou fã.

quarta-feira, abril 29, 2009

Azeites e alho

De vez em quando gostava de ter o sangue frio para, nas alturas dos azeites, dizer sem hesitações: “E se fosses pró (car)alho?!” Deduzo por isso que seja uma cozinheira bem-educada. Uma pena.
Falhou o timing. Mais uma vez.

Batido de complicações

A gastronomia é feita muitas vezes de experiências: misturas que simplesmente não resultam, sabores opostos que na frigideira se transformam num só. Tal como no amor, também na cozinha devemos perceber que “somos a regra e não a excepção”.
Por exemplo, laranja e leite não resultam… mas eu insisto em fazer um batido. Gosto de receitas com alto índice de dificuldade implícito. Será o desafio? Será porque simplesmente na minha vida consegui tudo a saca-rolhas? Só sei que acabei de (tentar) sair de um tacho a vapor, para ter vontade de investir numa panela de pressão. Posso-me queimar, mas a gula vai ser mais forte. Tenho a certeza. Resumindo: tou cozida.

segunda-feira, abril 27, 2009

Ponto de rebuçado

Tenhamos nós 24, 38, 18… ou apenas sete aninhos, todos temos um sinal comum quando a paixão nos bate à porta: a ânsia de estar com a outra pessoa. Nem que seja só para olhar para ela, sentir-lhe o toque de raspão ou, até mesmo, o cheiro quando a cumprimentamos. Sem os constrangimentos típicos “dos grandes”, o Diogo está assim… em ponto de rebuçado:

D – Tia quando é que podemos ir brincar com a Joana?
T – Temos de combinar.
D – Pode ser agora?
T – Diogo, agora é de noite, o jardim está fechado.
D – Então pode ser amanhã?
T – Não. Combinamos para a próxima semana.
D – Mas isso é muito tempo. Eu queria já hoje outra vez! (suspiro)


(Não seria mais fácil se também nós, supostos adultos maduros, fossemos assim?)

domingo, abril 26, 2009

Peixe no carvão da amizade

Junta-se uma sardinha lisboeta cansada e saturada a um alcorraz de Setúbal e a uma dourada algarvia e faz-se um fim-de-semana em lume sempre brando, onde a amizade é o carvão que mantém a diversão acesa. Relaxo, abuso, rio, penso... como sempre, sem chegar a conclusões. Entre moscatel e boas conversas, oiço uma música que faz sentido (será que alguma coisa faz?) nesta fase. Hoje, estou assim:

quinta-feira, abril 23, 2009

Entre tachos e sabores musicais

Depois dos blues, houve Beatles e Abba. Hoje, em estado pauliteirolamechas, há muito possivelmente sessão fadisteira. Posto isto, pergunto: Será que ando a ver se me dão música? Pela boca morre o peixe, sempre ouvi dizer.

Ultimamente tenho ouvido esta, cuja sopa de letras é deliciosa:

quarta-feira, abril 22, 2009

Pão de deus

O pão de deus é daqueles bolos que passa despercebido, mesmo quando é o constante lead-cake no palco da doçaria. Tem o carisma de uma cobertura de coco, a consistência de uma massa doce e sensualmente compacta, uma forma sugestiva de se abanar na montra dos bolos e um açúcar em pó discreto que só as melhores antenas gastronómicas conseguem interceptar.
Em noites onde até o pão bimbo decide dar um ar da sua graça, concluo que não é qualquer pão-de-leite que me agrada nos dias que correm. Podem vir pães-de-dó, pães tigre, até mesmo pães alentejanos e os convencidos dos pães de forma. Descobri ontem onde mora tentação: o pão de deus é simplesmente um pecado do céu… que felizmente (ainda) não engorda tanto como o pão de rala.

domingo, abril 19, 2009

Salada de muitas frutas

Numa tigela com o tamanho de um fim-de-semana junta-se a uma calda (ainda com leve travo a cana de açúcar da Papua Nova Guiné) uma maçã rijinha mas verde demais, uma laranja algarvia que quando é bem regada afinal dá fruto, um diospiro que promete mas que ainda está fora de época, um pêssego maduro que continua a surpreender na sua louca sensibilidade de quem sabe o que é viver sem rede. Para a pergunta que ficou (repetidamente) no fundo da salada, nem sequer eu tenho resposta. Só sei que inacreditavelmente é assim que me vou sentindo bem.

sexta-feira, abril 17, 2009

Fondue fadisteiro

Sempre me fascinou a forma rápida como uma noite à partida calma se transforma num verdadeiro fondue onde não faltam sabores inesperados. Imaginemos uma garrafa de vinho afrodisíaco a abrir as portas para um jantar de grupo. Duas frutas tropicais da Malásia que nos revelam o futuro gastronómico em formato de tarot. Molhos de conversas picantes sempre a rodar, temperados com gargalhadas qb.
Fados para acompanhar a refeição afinal prolongada. Um cubo de carne que se perde no meio do óleo, mas em compensação um belo naco que vem fazer-se ao bife. Espetos constantes a tentar entrar na panela do fondue... onde por acaso a carne de "falcão" (ainda) não é bem vinda. Um pai pouco mestre da culinária que decide juntar-se ao repasto, para evitar futuras de dores de barriga. Uma tasca à porta fechada, com desgarradas até bem de madrugada... A refeição termina com um digestivo servido pelo irmão do tão desejado manjar fadisteiro. De barriga cheia (e sem compreender como é que um jantar se pode transformar num verdadeiro circo) volto para casa. Sem conseguir parar de rir.

segunda-feira, abril 13, 2009

Salada alfacinha

Se a uma alface fresquinha juntarmos uns quantos bairros salteados, uma pitada de tradições misturadas com o melhor ambiente cosmopolita e ainda a temperarmos com um rio de paisagem extrafina, chegamos a uma Lisboa digna do melhor continente gourmet.
Adoro a minha cidade. O som dos eléctricos antigos, os pregões nos mercados ainda tão tradicionais, o cheiro ao Tejo (mesmo com maré baixa), o burburinho quando começa a anoitecer, o pôr-do-sol no Adamastor, as ruas cheias de gente do Bairro Alto, a vista nocturna dos miradouros, as padarias com bolos quentinhos a meio da noite, os prédios semi-degradados (sim, não me critiquem), os restaurantes típicos, o vinho à pressão, os beijos apaixonados à beira-rio, o riso dos miúdos a correrem nas ruas de Alfama, do fado… ai meu o rico fado!
Gosto das gentes de Lisboa. E claro, dos homens. (Dos que sabem rir). Gosto do Santo António. Gosto do cheiro a sardinhas no verão. Do som dos sinos das muitas igrejas… mesmo sendo a maior herege de que há memória. Gosto de Lisboa porque gosto. Tem um sabor a casa.

quinta-feira, abril 09, 2009

Limpezas na cozinha

Quando se decide recomeçar a cozinhar com o melhor que há em nós não há nada como fazer primeiro uma limpeza na cozinha. Mandar fora pedaços escritos de dicas para receitas que nunca funcionaram. Frasquinhos de especiarias cuja recordação do paladar simplesmente deixou de fazer sentido. Há algo de libertador em ganhar coragem para deitar fora o que está a mais. E é por isso que agora finalmente me sinto assim:

quarta-feira, abril 08, 2009

Bombons e maumaus

Chega a época da Páscoa e o chocolate parece ser a palavra de ordem. Na minha cozinha tento que reinem os bombons. Os maumaus ficam de fora.
A diferença entre estes dois tipos de chocolate é que um é doce e o outro é amargo. Sempre tive muita paciência para aturar azedumes dos chocolates que me rodeiam, mas nos tempos que correm a minha cozinha perdeu a pachorra para os derreter em banho-maria.
Os bombons fazem-nos bem ao estômago, à alma e são recomendados pelos maiores especialistas da vida. Eu corroboro. Já os maumaus, tantas vezes com recheios de incompreensão, exigência despropositada e intolerância, deixaram de constar da minha lista da Páscoa. Fazem-me mal aos dentes… digamos assim.
Adeus aos Ferreros Rocher com cobertura de indecisão crónica. Adeus aos Mon Cheri que de carinhosos têm pouco. Adeus aos bacci que nem merecem ser lembrados. Adeuzinho à caixa de chocolates com revestimento colorido que acabam por ser verdadeiros pesadelos a preto e branco.

Ando de bem com a vida… e isso não há maumaus que venham mudar tão cedo.

segunda-feira, abril 06, 2009

Caramelo

Continuo maravilhada com o potencial do caramelo. Acho incrível que já tenha gasto algumas panelas a tentar cozinhá-lo e, por mais que estrague trens de cozinha inteiros, dou por mim a embarcar com toda a vontade neste doce a cada nova vez.

Faz-me mal aos dentes. Mas faz tão bem ao resto. Meto-me de cabeça na maravilhosa sensação de o vir a ter na boca e enquanto não abrir a embalagem para lá chegar não dou sossego a mim mesma.

O caramelo é o doce capaz de provocar mudanças na cozinha de qualquer gulosa. Gosto do sabor açucarado do desafio. Gosto de descobrir aos poucos a cor que se revela por baixo do papel que o envolve. Gosto da intensidade com que o tento mastigar sem ele dar conta. Gosto do acaso que o fez vir parar à minha prateleira da doçaria. Gosto da forma como torna tão distantes os rebuçados de menta que me queimavam a garganta.

Gosto porque gosto… e por mais filmes que veja ou até mesmo conselhos que receba, não tenho calma. Adoro esta sensação de não saber o que fazer. Quem diria…