quarta-feira, abril 28, 2010

Sorvete tentação

Está calor. Na cozinha, a ventoinha faz o seu melhor. Olho para o morango como se fosse a primeira vez. Junto-lhe o açúcar em calda que pinga das nossas caras coladas enquanto dançamos. O som da batedeira proporciona que os ingredientes do sorvete se misturem lentamente. E, sem perceber porquê, sinto (a esquecida) vontade de o levar à boca. Tentação.

terça-feira, abril 20, 2010

Toucinho do céu

Há doces que nos enchem as medidas. Que nos levam ao céu. Que nos satisfazem do início ao fim. Cujos ingredientes se misturam na perfeição. Que nos fazem fechar os olhos e suspirar. Que, quando terminamos de comer, damos um estalido com a língua e dizemos: perfeito! Há interpretações que também são assim:

sábado, abril 17, 2010

Pêra bebeda

Lava-se em água corrente, aromatiza-se com gostas de sumo de morango e polvilha-se de açúcar amarelo para que o gosto de quem a leva à boca no final seja inesquecível. Abre-se a garrafa de vinho tinto para regar a pêra. As mãos esfregam-lhe a casca de todas as suas curvas, tocando com os dedos nas rugas, imperfeições, pequenos sulcos de recheio apodrecido pelas pancadas e pelo tempo.
Descasca-se lentamente, em provocação à urgência do apito do forno que indica que a temperatura ultrapassou o limite. Num movimento preciso, tiram-lhe o caroço como quem lhe tira a alma. Sai inteiro, como tantas vezes ela saiu da fruteira, mesmo quando amolgada por fruta vizinha. Rebola no tabuleiro. Pára. Não deixa que nenhum pau de canela entre nela. Não quer que esse aroma se entranhe. Não quer ser invadida por qualquer corpo estranho à sua composição fresca.
No forno a chama, essa permanece acesa. Mas no tabuleiro a pêra mantém-se firme, sem baloiçar na sua postura arredondada. Está bebeda, mas não embrigada. A sobremesa não está à livre disposição no menu.

terça-feira, abril 13, 2010

Sobremesa de Beijinhos

Lembro-me de ter escrito sobre os bolos “beijinhos” há muito tempo. Julgo que na altura andava a praticar a receita. Hoje, pela data, lembrei-me de os voltar a pôr no menu.
São doces, disso não há dúvida. Por vezes têm recheio e a língua fica com o seu sabor durante muito tempo. Dependendo da ocasião, poderão ser pequenos ou grandes. Por vezes ficam esquecidos no fundo do armário. Mas também acontece termos esgotado a caixa e mesmo assim não ficarmos saciados. Há quem os compre, há quem os dê. Eu gosto de cozinhá-los. Sem pressas. Mesmo que o lume esteja bem alto.




(from the secret jukebox... and calendar)

quinta-feira, abril 08, 2010

Sem o saber, hoje alguém me lembrou disto. Lembrando-me que há muito que não me lembrava. Não houve sabor. Nem cheiro. Foi bom assim.

domingo, abril 04, 2010

Sal e pimenta

Salgado. Apimentado. Calma. Boémia. Dois sabores distintos de uma só refeição. Dois destinos de uma só viagem. Uma contradição gastronómica, igual à cozinheira. Em breve, vai ser assim.