domingo, janeiro 30, 2011

Olhar de mel

"O teu olhar mudou"

Num curto espaço de tempo, duas bocas dizem-me a mesma frase. Duas bocas, que embora distintas, conseguiram olhar-me verdadeiramente nos olhos e ver o que há para lá do tom de mel. O fel. E soube-me bem.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Tosta mista

Saem do frigorífico espontaneamente. Ambos permaneciam em tupperwares distintos, fechados há longos meses em prateleiras diferentes, num vácuo imposto pela culinária da vida... e conscientemente por eles próprios.
Encontram-se na bancada da cozinha, onde trocam um sorriso. Cúmplice. Verdadeiro. Daqueles que aquece uma cozinha sem sequer ser preciso acender o fogão.
Deixam-se envolver pelas migalhas de um miolo repleto de histórias perdidas, compreensões mútuas, vontades esquecidas. Enredados por uma côdea dura que há muito teimava em não se desfazer. E, afinal, era tão simples. Tão complexamente natural.
No escuro da tostadeira abraçam-se com uma única palavra. E não há mais manteiga entre eles. Na realidade, há muito que isso deixou de ser preciso.
O queijo derrete-se e envolve o fiambre, que sente a sua tez cada vez mais rosada. Não de prazer. Sim de uma qualquer emoção que nenhum livro de receitas algum dia poderá explicar.
Sem que nenhum dos dois se mexa ou tenha necessidade de acrescentar qualquer erva aromática, deixam-se ficar assim até que o botão off desliga automaticamente a tostadeira. Nenhum dos dois tem noção do momento exacto em que isso acontece, embora ambos soubessem que seria inevitável. E lentamente a tosta mista vai ficando novamente rija. Com a certeza, porém, de que o calor estará lá sempre. Mesmo dentro do frigorífico.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Cérebro com couve lombarda

O meu cérebro tem andado enrolado nas mil folhas de couve lombarda que tenho na bancada da cozinha à espera de serem cozinhadas. Aceito desafios. Atiro-me a eles sem dar tempo a mim própria de ficar em banho maria por um bocado. A vida não pára e eu também não, repito. Mas de repente a panela de pressão apita com força e faz-nos lembrar que não somos de ferro.

Ainda não perdi a cabeça. Mas já esteve mais longe.