sexta-feira, novembro 23, 2012

Doce de solidão

Em português do Brasil todos os doces parecem saber melhor. Mesmo os de sabores amargos.


terça-feira, novembro 13, 2012

Comida de rua


Há alturas em que somo brindados por palavras inesperadas. Com cheiro a comida de rua, mas com a clareza e calma do menu mais gourmet de sempre:

Ele - “Isto está difícil, não é?”
Eu - “Pois, não está fácil, não.”
Ele - “Mas olhe, há que ter força e não desistir.  Ele (apontado para cima) há-de ajudar-nos a todos”
Eu -  (Sorriso)
Ele – (Sorriso e um encolher de ombros)
Eu - Boa sorte para si! Desejo-lhe um bom domingo!
Ele - “Para si também, menina!”

Foram estas as palavras que troquei com um sem-abrigo que pedia no trânsito e olhou para mim num daqueles momentos em que a ordenação de ideias nos faz fechar os olhos para nos percebermos melhor. 
E, por momentos, tudo se tornou mais claro.


segunda-feira, novembro 12, 2012

Salsicha alemã



Dizem que é rija e pouco dada a variações de tempero. Embora esteja diariamente nos menus  de todas as casas nacionais, hoje é servida à mesa da Nação. Ao lado do Coelho à Caçador que, se não se põe a pau, acaba em cabidela. Independentemente de toda a água que se tem posto na fervura, a ambos é dedicado este vídeo tinto (de luto), envelhecido em cascos de muito trabalho e aromatizado com o desespero de quem já mal consegue chegar à mesa… 
Para saborear com toda a calma, sob risco de indigestão extrema.


segunda-feira, novembro 05, 2012

Doces recordações



Hoje encontrei este vídeo na Net e deu-me a "Nostalgia". Lembro-me que ele, muito de vez em quando, cozinhava-me a música do Vitinho na viola. Eu era uma criancinha que conseguia ser chata quando queria atenção e esta era a forma que ele arranjava para me calar. E eu gostava muito. Lembro-me também de ele andar sempre com o seu maço SGVentil. Maço, não. Maços. Tinha sempre dois. Lembro-me também da roupa que a minha avó lhe cozinhava, para que andasse tipo actor de cinema. E a verdade é que ele parecia mesmo uma estrela de Hollywood nos anos 50. Lembro-me que ele raramente ria, mas quando o fazia os olhos brilhavam-lhe como se fosse um garoto. Lembro-me que ele gostava de queijo da lha e que um dia ficou doente por comer demais. E nesse dia fui dar-lhe um beijinho à cama, naquele quarto de paredes cor-de-rosa, que cheirava a after shave misturado com SG Ventil. Lembro-me também de o ver em palco e de gostar de ser a neta e filha dos artistas que toda a gente aplaudia com fervor. Mas depressa me fartava e ia brincar lá para fora, porque a minha energia infantil era como um lume forte que não me permitia ainda saborear a música em lume brando. Para todos ele era um génio, para mim era apenas o meu avô.
Lembro-me de muitas coisas e, cada vez que penso nele, tenho pena de não termos tido a oportunidade de chegar às conversas de adultos. Às vezes imagino como teria sido cozinharmos em conjunto a nossa obsessão mútua por livros, mezinhas caseiras e mistérios do oculto. E, com nostalgia, não duvido: teria sido um grande repasto.


domingo, novembro 04, 2012

Cachorro quente



É quando menos esperamos que este tipo de pratos acontecem. Aparecem-nos na cozinha, sem aviso prévio e conquistam-nos o estômago. É certo que há cachorros e cachorros, mas o que agora é prato principal desta cozinha é bem quentinho. Daqueles ideais para começar o dia com umas belas lambidelas… e também para acabar, numa refeição demorada entre as mantas do sofá. Daquelas que viciam e se tornam obrigatórias no menu. Porque, por este lados, o cachorro quente passou a ser uma receita de amor. Para todos os dias.