quinta-feira, junho 28, 2012

Cozinha de fusão



São dez da noite. Sob as luzes amarelas das claras em castelo lá do alto da minha cidade, percorro aquela enorme cozinha de fusão, com a curiosidade acumulada nos sentidos. Gosto da mistura da batata doce, com os noodles  e o feijão preto. Gosto ainda mais da mistura de todos esses sabores com as sardinhas e as bifanas da minha terra. Todos em harmonia, porque naquele momento a noite – e a música – convida à festa. Sento-me a observá-los na sua deliciosa espontaneidade grosseira, durante um bom bocado. Há poesia na decadência daqueles corpos que se mexem ao ritmo de uma batedeira que está a dar as últimas. Os olhares furtivos, os risos gulosos, o dedo que parece estar a molhar no molho só para provar. Quem sabe para tantar comer mais tarde. E embora eu não pertença àquele cozinhado, não deixo de saborear os seus temperos. Não há felicidade, mas há vida. E é disso que a (minha) cozinha vive.