São dez da
noite. Sob as luzes amarelas das claras em castelo lá do alto da minha cidade, percorro
aquela enorme cozinha de fusão, com a curiosidade acumulada nos sentidos. Gosto
da mistura da batata doce, com os noodles e o feijão preto. Gosto ainda mais da mistura
de todos esses sabores com as sardinhas e as bifanas da minha terra. Todos em
harmonia, porque naquele momento a noite – e a música – convida à festa.
Sento-me a observá-los na sua deliciosa espontaneidade grosseira, durante um
bom bocado. Há poesia na decadência daqueles corpos que se mexem ao ritmo de
uma batedeira que está a dar as últimas. Os olhares furtivos, os risos gulosos,
o dedo que parece estar a molhar no molho só para provar. Quem sabe para tantar comer
mais tarde. E embora eu não pertença àquele cozinhado, não deixo de saborear os
seus temperos. Não há felicidade, mas há vida. E é disso que a (minha) cozinha vive.
1 comentário:
:-)
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