domingo, março 13, 2011

Cozido à portuguesa

Movidos pelo sabor comum do descontentamento, trezentos mil ingredientes à rasca uniram forças na panela de pressão. Aos vegetais ainda tenros juntaram-se as carnes já enrijecidas por vidas difíceis. A fervura levantou rapidamente e os (dis)sabores de todos estes alimentos misturaram-se de uma forma única. Com emoção.
É certo que não é fácil juntar, de forma harmoniosa, alimentos distintos numa só receita. Houve muita gente com dúvidas sobre o sucesso do resultado final. Houve muita gente que desejava secretamente que acabasse numa tremenda indigestão ou azias agressivas. Mas não. E depois de ver morcela da extrema-direita lado a lado com chouriço de sangue da extrema-esquerda sem haver molho na travessa, consegui perceber o que realmente significa viver numa cozinha pacífica.
Foi especial. Mas só quem percebeu a tempo que este seria um cozido à portuguesa histórico e optou por fazer parte dele é que poderá compreender o significado destas duas palavras.

2 comentários:

horticasa disse...

Parabens pelo blogue, é a primeira vêz que aqui passo e fiquei muito bem impressionada.
Foi realmente lindo, ver tanta gente tão diferente a mostrar a sua insatistação com aquilo que nos está a acontecer. Espero que os donos do poder e do dinheiro, entendam que a vida não é só lucro e que para haver lucro, é preciso que as pessoas tenham poder de compra e para isso é preciso voltar a começar a produzir, porque sem produção falta tudo.
bj Euénia

carolina disse...

Paula,

Hoje também tu estás de Parabéns. Porque viste primeiro que todos os outros a notícias, porque foste a primeira a perceber o impacto do que ia acontecer, e, mais importante, porque foste a primeira a dar voz a quem não tem. A isso chama-se Jornalismo, com J grande.

Tenho muito orgulho em ser tua amiga!