Lava-se em água corrente, aromatiza-se com gostas de sumo de morango e polvilha-se de açúcar amarelo para que o gosto de quem a leva à boca no final seja inesquecível. Abre-se a garrafa de vinho tinto para regar a pêra. As mãos esfregam-lhe a casca de todas as suas curvas, tocando com os dedos nas rugas, imperfeições, pequenos sulcos de recheio apodrecido pelas pancadas e pelo tempo.
Descasca-se lentamente, em provocação à urgência do apito do forno que indica que a temperatura ultrapassou o limite. Num movimento preciso, tiram-lhe o caroço como quem lhe tira a alma. Sai inteiro, como tantas vezes ela saiu da fruteira, mesmo quando amolgada por fruta vizinha. Rebola no tabuleiro. Pára. Não deixa que nenhum pau de canela entre nela. Não quer que esse aroma se entranhe. Não quer ser invadida por qualquer corpo estranho à sua composição fresca.
No forno a chama, essa permanece acesa. Mas no tabuleiro a pêra mantém-se firme, sem baloiçar na sua postura arredondada. Está bebeda, mas não embrigada. A sobremesa não está à livre disposição no menu.
Descasca-se lentamente, em provocação à urgência do apito do forno que indica que a temperatura ultrapassou o limite. Num movimento preciso, tiram-lhe o caroço como quem lhe tira a alma. Sai inteiro, como tantas vezes ela saiu da fruteira, mesmo quando amolgada por fruta vizinha. Rebola no tabuleiro. Pára. Não deixa que nenhum pau de canela entre nela. Não quer que esse aroma se entranhe. Não quer ser invadida por qualquer corpo estranho à sua composição fresca.
No forno a chama, essa permanece acesa. Mas no tabuleiro a pêra mantém-se firme, sem baloiçar na sua postura arredondada. Está bebeda, mas não embrigada. A sobremesa não está à livre disposição no menu.
9 comentários:
É mesmo..há pêras e pêras, bêbedas ou não, serão sempre um fruto apetecível!
Assim haja mãos para elas, fornos em brasa e o toque final (ou não só)...da canela...
pertinaz
Nem todos têm boa mão para a apanhar... mas quando a têm, nem todos a sabem depois realmente saborear.
A fruta tem muito que se lhe diga, a verdade é essa... ;)
Sempre gostei de ser posto à prova...-:)
pertinaz
Tal qual colheita de vinho? ;)
Não cheguemos a tanto!
"Ser posto à prova" não significa o mesmo que "ser provado"...
Até porque os "provadores" de vinho tradicionais têm por mau hábito deitá-lo fora.
Estava a pensar em algo mais humano...
pertinaz
Num blogue onde se fala em formato gastronómico, isso pode levar-nos a receitas perigosas…
Tem razão...esta vertigem pelo perigo...estou sempre pronto a aprender. Mude-se o formato...ou o blogue... -:)
PS: Achei curiosa a sua crónica de 14 de Abril nos "saltos altos".
Se me permitir enviar-lhe-ei um testemunho de como "exóticas" podem ser tais "despedidas"
Curiosity killed the cook... mas isso já você sabe! Fico à espera do email...
Onde se lê "exóticas" leia-se "excêntricas"...mas aqui vai.
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