segunda-feira, junho 14, 2010

Chá de menta

Quente, mas fresco no sabor. Adoro (est)as contradições na culinária da vida… mas isso já todos sabem.
O segredo do chá de menta é deitar uma primeira vez no copo e voltar a pô-lo dentro do bule. À segunda vez sabe sempre melhor, dizem eles. Talvez por isso tenha voltado.
Ligo o lume. Ponho ansiosamente o bule com a menta na chama, desejosa de começar a ouvir a água a fervilhar lá dentro. Bum, brum, bum, bruum, buuum… tal como um coração descompassado, assim ferve Marrakech nos meus ouvidos. Fecho os olhos como da primeira vez. Sinto-lhe o inconfundível cheiro. Junto-lhe um disforme cubo do açúcar mais doce, do tamanho dos braços que se abrem para me receber. Sorrio àquele tom escuro a que me habituei sem ter dado conta. Há ingredientes que não se esquecem.
Encho o meu pequeno copo com o braço erguido, conforme a tradição. As pingas salpicam-me a pele suada enquanto oiço os risos de quem confessa prazer em ver-me entrar nos rituais marroquinos. Páro para ver as cores. Aquelas cores. As pessoas passam e eu observo-as hipnotizada. Há crianças que riem. Há outras que mendigam. Há encantadores de serpentes. Há vendedores aldrabões. Há mulheres tapadas. Há homens que discutem. Há tristeza. Há alegria. Há agitação. Há vida.
Calo-me e sinto aquela paz fresca da menta. Foi como regressar a casa.

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