sábado, agosto 14, 2010

Café de filtro

Sempre achei que não deviamos usar filtros no que toca à partilha de cafés. E é o que faço (e me fazem a mim), numa manhã perdida no meio da semana.
Nesse dia chego à cozinha muito antes de qualquer chef de letras gourmet. Cumprimento-as com um bom dia e um sorriso. Dou-lhes uma pitada de música alta, enquanto ambas nos dedicamos aos nossos diferentes refogados. Um dia convidam-me para partilhar com elas o café. Rostos que tantas vezes passam simplesmente despercebidos a quem partilha a cozinha de letras comigo. Aceito, com prazer, entrar no seu mundo... num momento de cozinha de fusão. E foi-se tornando um hábito.
Sem filtros, explicamos umas às outras as nossas profissões. Enquanto bebo o café da cor delas, não posso deixar de as admirar pelas suas histórias repletas de sacrifício e coragem. Mulheres que se desdobram na vida, sem que ninguém lhes bata palmas no fim. A conversa é sempre rápida, no início tímida, mas por fim de uma sinceridade comovente. São dez minutos que me fazem sempre pensar. Que me fazem perceber que um sorriso quebra barreiras com muita facilidade. E que são os pequenos gestos que nos enchem a alma.

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