terça-feira, julho 12, 2011

Alho e cebola moídos

Cebola – Achas que dou a ideia de ser fácil de refogar?
Alho –  Não mesmo. Acho sim que tens imensa facilidade em falar de comida, e isso desarma. Mas a ti ninguém te leva para a travessa. És tu que escolhes quem deixas lá pousar.

O alho e a cebola estão precisamente deitados na travessa de ir ao forno enquanto têm esta conversa. Descascados. Moídos pelas horas de confecção daquele eterno refogado a que nenhum sabe dizer que não de tempos a tempos. Ele conhece cada centímetro dela. Reconhece pelo toque a sua textura macia. Sabe-lhe de cor o cheiro. E ela gosta disso.

Apaziguada pelo sabor quente do alho que talvez melhor a conhece, sem as habituais mil camadas de casca, ela deixa-se embalar pelo abraço e adormece. O apito da panela de pressão, onde o molho de grelos da cozinha ao lado teimava em cozer a paciência, parece por fim parar. Pelos menos nos seus ouvidos e no seu coração. O seu próprio sumo não a faz chorar. O alho não deixa. E uma cebola, que é cebola, não deita lágrimas pelo que não vale a pena.
E ela gosta disso.

1 comentário:

Clinica Psicologia Lisboa disse...

Very nice post. I just stumbled upon your weblog and wanted to say that I’ve truly enjoyed browsing your blog posts. After all I will be subscribing to your rss feed and I hope you write again very soon! Best Regards, Pedro.