sábado, janeiro 02, 2010

Lotes de Café

Na cozinha dela existe uma caixinha, por sua vez cheia de caixinhas... cada uma com uma aroma, um tamanho de grão, um tipo de café.Há café do Quénia, simples... tão simples. Há café do Brasil... cheio de vida, ritmo e vontade de ser ousado. Há ainda o que vem das origens árabes... ligeiramente conservador, fã da união familiar que um dia irá (tentar) encontrar. Há o café de São Tomé, com sorrisos espontâneos e calor, muito calor. Há por fim os grãos vindos das Indonésia... raros para muitos, mas uma realidade (ainda demasiado) presente na sua cozinha.
Ela entra o ano a olhar para a caixa. Sem saber muito bem se lhe apetece sorrir, cantarola alto enquanto mexe o corpo involuntariamente: “tenho dores fechadas em caixinhas, contra mim contra ti, contra láááá...”. Dores em todos os seus lotes de café. Os mesmo que lhe dão vida, dia após dia. Os mesmos que a tornam única na sua complicada maneira de ser. Chega a essa conclusão enquanto caminha com o frio a bater-lhe na cara. Muitos alguéns já lhe tinham dito isto. Naquela noite ouviu-o outra vez. Na manhã seguinte, ouviu-o outra vez. E, enquanto bebia um café, compreendeu. Finalmente compreendeu. E sorriu.

Sem comentários: