sexta-feira, janeiro 08, 2010

Feijão e arroz

Um negro, outro branco. As diferenças começam aqui. Mais: Um é à partida seco e solto, com medo de se apegar; O outro gosta de mostrar logo o seu melhor caldo pastoso que, porém, nunca irá voltar a dar a ninguém… a não ser apenas para provar. Contudo, são ambos portadores de uma simplicidade complexa que os torna demasiado iguais no prato da vida. E é aqui que começa a química do feijão preto e do arroz.
Lado a lado partilham o prato, sabendo que nunca poderão vir a ser cozinhados dentro do mesmo tacho. Ainda assim, o arroz não gosta quando o feijão fica frio. Mas esforça-se, com cada vez menos goma, por perceber que nem sempre a travessa consegue aquecer da mesma forma as suas composições distintas. Dentro da igualdade, são diferentes. E disso, já nenhum dos dois se esquece.
Por motivos diferentes e iguais, ambos conhecem a panela de pressão. O som do apito e a força do vapor, que queima até ao mais fundo que pode haver, nunca sairão das suas consistências. E esta ligação, de quem se queimou e mesmo assim permanece com ar intacto, poucos poderão algum dia perceber. Embora o feijão tenha receio de afogar o arroz no seu caldo negro, o arroz gosta de se deixar envolver… porque sabe que (ainda) não está na hora de perder o seu lado branco, mais imaculado.
Pela mesa passam espetos com salsichas e entremeadas, bem passadas, mal passadas, mas incapazes de entender porque o feijão e o arroz continuam a sorrir discretamente um ao outro, quando já deviam ter esgotado a sua capacidade de(se) partilharem. Embora juntos desfrutem do sabor da carne na travessa vezes sem conta, ambos sabem que não vão limitar a entrada de bananas fritas e couves mineiras no menu. A vida é um rodízio demasiado grande e nenhum quer abdicar da sua enorme variedade. Mas, onde quer que estejam, vão ser sempre o feijão e o arroz. Lado a lado. Mesmo que cozinhados em bicos distantes no fogão.

2 comentários:

Alexandre Moleiro disse...

E ainda dizem que os grandes chefes de cozinha são homens...

Anónimo disse...

Espero que um dia passes a fazer arroz DE feijão. Sabe tão melhor quando os ingredientes se misturam e se complementam... Acompanham as célebres Pataniscas. Quentinhas e boas. Como se quer.

la Lola