terça-feira, janeiro 12, 2010

Carne no forno

Varre-se com o braço tudo o que não interessa: em dias em que não há tempo a perder, a bancada da cozinha precisa de espaço para o tempero. Abre-se uma garrafa de vinho branco para ajudar a carne a ficar mais tenra. Descasca-se o alho sem qualquer delicadeza… seja como for, ele terminará em pasta. Atira-se a carne para cima da bancada. Sente-se o seu cheiro cru. Desta vez esquece-se qualquer manteiga derretida e esfrega-se com pimenta. Junta-se um inevitável fio de azeite pouco virgem para que as mãos deslizem melhor. Dum lado, do outro, até que a carne ganhe cor.
Salteia-se com malaguetas picadas e gengibre esmagado sem dó, contra a parede. Está frio e as janelas da cozinha embaciam. Talvez tenham sido sabores picantes a mais, mas o gosto é inconfundível. A mistura de cheiros faz com os olhos se fechem e a boca fique seca. A cabeça anda à roda, inundada pela intensidade do prazer anunciado de que o fim está a chegar. Silêncio. Ouve-se, após uma eternidade, o tic-tac do relógio da parede. No chão continuam os frascos caídos, com especiarias por abrir e recordações de outros temperos. Deixa-se marinar durante cinco minutos até recuperar o fôlego e ter força para meter o tabuleiro no forno. Está frio, mais uma vez. Mas a carne só quer ficar no quente até ouvir o apito, em sinal de que a confecção acabou. Sai sem ficar queimada. E, com o seu melhor ar, volta à mesa onde todos estão habituados a vê-la.

Sem comentários: