quarta-feira, janeiro 06, 2010

Açorda de satisfação

Se a um pão muito rijo juntarmos um punhado de súbita satisfação e mexermos bem... muito bem, durante umas boas horas, sem pressas, apenas com vontade, chegamos à açorda que faz a minha cozinha hoje desligar o fogão com um sorriso parvo nos lábios. Pão alentejano, nem vê-lo. Continuo a achar que a robustez e simplicidade da carcaça é o ideal nos meus pratos.
Gosto de desligar a luz da cozinha com esta sensação de satisfação. De sorrir perante a possibilidade de contar o mundo e ter uma vontade imensa de o fazer... como há muito não tinha. De perceber que as minhas palavras e atitudes ainda são verdadeiramente compreendidas por alguns. Sabe-me bem sentar-me à mesa para comer a açorda e, em vez de um jantar à partida distante, acabar a saborear sem faca e garfo o outro lado de mim. Gosto de perceber que as portas estão abertas. Agora e amanhã. De sentir no corpo o cansaço extremo e mesmo assim não conseguir dormir. De percorrer as ruas escuras da cidade sozinha. Na penumbra de quem hoje já não quer ser vista. Gosto de desligar o carro e ficar sentada uns minutos para deixar terminar a música que o meu rádio - que concluo ter vida própria - insiste em fazer-me ouvir. Como um género de coentros (congelados) no topo da açorda, de que me tinha esquecido sem sequer dar conta. Hoje foi assim:

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