quarta-feira, agosto 08, 2012

Pêras com creme Nívea?


Há gostos gastronómicos estranhos, é certo. E se havia coisa que eu gostava em miúda era de ir para a praia. A pele bem salgada, os dedos engelhados, eu aos saltos, incansável dentro do meu fato de banho com folhinhos cor-de-rosa. E onde está a parte estranha disto? Calma, já lá chegamos. Lembro-me de chegar a casa e ir para o habitual banho da praxe tirar os quilos de  areia de cima. E depois vinha o creme Nívea, aquele que dá para o corpo todo e que, passados quase 30 anos continua a ser o de eleição lá em casa. A minha mãe lambuzava-me de hidratação, enquanto eu própria, ao mesmo tempo, me lambuzava de gula a trincar pêras. 

O sumo invariavelmente escorria-me pelo queixo e misturava-se com o creme. A mistura dos dois reunia-se à passagem da minha pequenita língua, em tentativas vãs de limpar a boca. Gostava daquela mistura de sabores. Tanto, que um dia dei por mim a barrar uma pêra com Nivea e a comê-la com elevada satisfação. Foi nesse momento que, do alto dos meus 5 ou 6 anos,  percebi o que era ser gourmet. Que não há nada como ser criativo na cozinha. Arriscar. Sair da caixa e experimentar o que não é óbvio. Que as misturas mais improváveis podem dar certo. Que a culinária da vida não se resume a um monte de receitas já escritas por outros.

E o que é certo é que ainda hoje gosto muito daquelas pêras com creme. E o meu estomago nunca refilou.

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