Hoje encontrei este vídeo na Net e deu-me a "Nostalgia". Lembro-me que ele, muito de vez em quando, cozinhava-me a música
do Vitinho na viola. Eu era uma criancinha que conseguia ser chata quando
queria atenção e esta era a forma que ele arranjava para me calar. E eu gostava
muito. Lembro-me também de ele andar sempre com o seu maço SGVentil. Maço, não.
Maços. Tinha sempre dois. Lembro-me também da roupa que a minha avó lhe
cozinhava, para que andasse tipo actor de cinema. E a verdade é que ele parecia
mesmo uma estrela de Hollywood nos anos 50. Lembro-me que ele raramente ria,
mas quando o fazia os olhos brilhavam-lhe como se fosse um garoto. Lembro-me
que ele gostava de queijo da lha e que um dia ficou doente por comer demais.
E nesse dia fui dar-lhe um beijinho à cama, naquele quarto de paredes
cor-de-rosa, que cheirava a after shave misturado com SG Ventil. Lembro-me
também de o ver em palco e de gostar de ser a neta e filha dos artistas que toda a
gente aplaudia com fervor. Mas depressa me fartava e ia brincar lá para fora,
porque a minha energia infantil era como um lume forte que não me permitia
ainda saborear a música em lume brando. Para todos ele era um génio, para mim era apenas o meu avô.
Lembro-me de muitas coisas e, cada vez que penso nele, tenho pena de não termos tido a oportunidade de chegar às conversas de adultos. Às vezes imagino como teria sido cozinharmos em conjunto a nossa obsessão mútua por livros, mezinhas caseiras e mistérios do oculto. E, com nostalgia, não duvido: teria sido um grande repasto.
Lembro-me de muitas coisas e, cada vez que penso nele, tenho pena de não termos tido a oportunidade de chegar às conversas de adultos. Às vezes imagino como teria sido cozinharmos em conjunto a nossa obsessão mútua por livros, mezinhas caseiras e mistérios do oculto. E, com nostalgia, não duvido: teria sido um grande repasto.
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