quinta-feira, outubro 30, 2008

Lágrimas de cebolada

Fazer uma cebolada sem deixar cair uma lágrima é uma tarefa difícil… que eu vou conseguindo de forma heróica uma após a outra. Mas tinha de chegar o dia em que os meus olhos entupidos não aguentavam mais.
As rodelas de cebola foram-se acumulando e sim, é verdade, nos últimos dias tive uma lágrima ao canto olho. Senti-me triste, sem vontade de falar, atolada nas angústias que se arrastam há meses (algumas há anos). Umas tão perto, outras tão longe. Mas todas presentes no meu coração de manteiga.
Cada vez que pego na faca para descascar as cebolas da minha vida faço-o de forma furiosa, sem dar azo a fraquezas. Foi assim que cresci e é isto que todos esperam de mim. Sou o pilar. A que resiste a todos os ácidos. Contudo, há alturas em que é preciso deixar descer as tristezas e por momentos ser uma cozinheira que chora. Que não diz piadas a toda a hora, que não tem sempre um sorriso, que também precisa de espaço para reaprender a ver o lado positivo das situações. Nem eu me reconheço. Mas por esta vez dou-me ao direito de me sentir assim.
Hoje as cebolas já refogaram no azeite proveniente de uma boa conversa. Azeite virgem de emoções, de compreensão, onde foram salteadas as primeiras verdadeiras gargalhadas da minha semana. Daqui a uns dias tenho a certeza que das cebolas não vai restar nada na minha cozinha.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ora pega um belo Quindim para a tua sobremesa minha amiga, daqueles cheios de ovos e raspas de coco...um quindim bem amarelinho e docinho!!! Guarda-o para o fim da fantástica refeição que criaste utilizando essas tantas cebolitas de que dizes ter refogado durante a semana. Cebolitas selvagens, como diria a minha avó. Daquelas que provocam dilúvio nos olhos mas que, diz a sabedoria popular, são as que dão o melhor sabor aos pratos. Aproveita-as bem e brinda-te a ti e a nós todos que te rodeamos com a melhor das tuas receitas. Um prato gourmet, muito pensado e ponderado, para mais tarde recordar.

Beijos, queijos, um quindim e uma garrafita de Moet para brindarmos a tudo de bom

A parola Cátia

Anónimo disse...

Que boa caranguejola que me saíste :), tu escreves, eu leio e penso que escreves pelas duas...tal não é a semelhança...
Mas uma coisa boa das cebolas e do inverno é que chegou a época em que nos podemos vestir por layers :) (isto agora foi só para tentar fazer uma piada parva....).
Bora daí.
Bjs

Chef Cosme disse...

Essa das layers é muito boa... Layers emocionais, layers físicas, há de tudo! E depois da última intensa sessão gastronómica do bem que umas layerzinhas de roupa vão dar um jeitão para esconder as layers de regueifas que aqui ficaram... :P