quarta-feira, setembro 23, 2009

Caixa de tâmaras

Lembro-me de ser um festim cada vez que o meu avô comprava tâmaras. Era uma iguaria rara naqueles tempos… por isso mesmo, especial. Era com alguma ânsia que as esperava e, quando ele não as trazia durante muito tempo, a desilusão era inevitável.
Durante muitos anos de cozedura, uma tâmara foi um vaivém nas minhas prateleiras. Ora aparecia na caixa mais bonita, ora tornava a ir embora quando eu me começava a acostumar-me novamente ao sabor da sua presença.
Hoje em dia apercebo-me de como essa tâmara continua presente na cozinha da minha mente nos mais variados formatos. Uma necessidade constante de saber que as tâmaras vão lá estar, mesmo que eu nem sequer saiba se as quero realmente comer. Voltar a não ter a amarga surpresa de a ver ir embora quando se torna especial.
Tendo a noção de que na culinária da vida não há certezas absolutas, um dia terei de resolver isto.

3 comentários:

Unknown disse...

Com tantas frutas saborosas no mundo a se provar não fique presa as tâmaras.
:-D

Chef Cosme disse...

Por mais frutas que se cruzem nos nossos caminhos, as tâmaras da infância ficam para sempre. Lidar com elas é uma aprendizagem constante... e tramada ;)

Luis Novais disse...

Recordações de um passado que crescemos a negar para podermos ser grandes: construirmos um "eu".
E finalmente percebemos que esse "eu" está em tudo o que fomos e em tudo o que outros foram connosco.
Só então e quando já nem sequer nos preocupamos em sê-lo é que o somos: adultos.
E provamos dessa tâmara que ecoa na nossa cronologia. E redescobrimos o seu sabor tantas vezes negado.
Todos temos a nossa tâmara. Todos.