quarta-feira, setembro 30, 2009

Relógio da cozinha

Tic-tac. Tic-tac. Os ponteiros do relógio da minha cozinha passam segundo a segundo, à espera de ouvir o apito final a reclamar que desligue o fogão e dê por finda a confecção de mais um prato. Mas e se, de repente, eu achar que afinal quero que tudo fique um pouco mais passado? Ou, pelo contrário, achar que já passou demais? Ou pior: se achar as duas coisas ao mesmo tempo, porque no tabuleiro que está no forno os ingredientes tinham consistências diferentes e eu simplesmente não dei (logo) conta?
Há algo de impiedoso no relógio do fogão. Como se nos tirasse a espontaneidade para temperar a bel-prazer e mudar o rumo do sabor final. Sabor que, pensando bem, também pode ser alterado já quando a comida chega à mesa e fica à mercê do galheteiro.
Por estes lados o tic-tac tem sido constante, 24 horas por dia, como se na minha cozinha não houvesse mais tempo e eu tivesse de decidir um menu gourmet como quem manda vir um prego no pão. Não gosto. Volto ao lume brando e dou tempo a mim mesma. Faço as malas e penso em como, por vezes, é bom partir. Pela frente, quando voltar, tenho todo o tempo do mundo.

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