quarta-feira, dezembro 02, 2009

O (real) prazer de cozinhar

Nunca uma cozinheira poderá esquecer o momento em que abre a porta da cozinha disposta a cozinhar. A verdadeiramente cozinhar. Sabendo à partida dos riscos de fugas de gás. Do lume que poderá acender rápido demais e queimar a mão que carrega o fósforo. Dos ingredientes que, no fim, poderão simplesmente não fazer sentido juntos.

Todos nos lembramos de como é cozinhar um prato sem a expectativa de conseguir atingir uma iguaria no fim. Só pelo prazer de ali estar. De misturar no tacho as cores, as texturas, os sabores, os cheiros… e ver crescer algo novo. A cada minuto. Mexer, hesitar, juntar mais de uma qualquer coisa escondida anteriormente num frasco, levar até ao fim a agradável estranheza de saborear a evolução de um prato que, inevitavelmente, vai ver a sua confecção terminada um dia. E isso não é mau, é apenas a realidade.
É talvez esta sinceridade da cozinha que me faz apaixonar pelos tachos. Não sei se algum dia cozinharei a pensar que no fim vou ter a travessa mais gourmet na minha mesa. Talvez. Mas, até lá, quero apenas sentir esta honestidade imensa de experimentar a força do lume sem ter vontade de o desligar.

3 comentários:

Alexandre Moleiro disse...

Na cozinha como na viagens ou no sexo, por vezes, o mais interessante é o caminho e não o destino.

Chef Cosme disse...

Não podia concordar mais. E quando o destino nem sequer existe? Deveremos encarar o caminho real à mesma? Eu continuo a achar que sim...

Péricles disse...

O partir sem destino... é per si um destino...
Mas creio que o que embeleza qualquer chegada a um porto seguro, é a força de um caminho, e as opções que vamos tomando. Há sempre um ou mais Y no nosso percurso. E como diria Samuel Becket "Não importa, tentar outra vez, errar outra vez... Errar melhor!"