terça-feira, dezembro 23, 2008

Sopa da pedra

Se num caldeirão que demorou demasiados meses a encher juntarmos várias latas de sentimentos indefinidos mas sinceros, vários quilos de paciência e molhos de qualquer coisa ingénua que nem mesmo eu sei onde fui colher, concluo que nunca poderei ser uma sopa de pedra. Sou demasiado terna, por mais que me esconda na solidez dos meus tachos de ferro. Contudo, há alturas em que percebemos que terminou o prazo de validade.
Há umas semanas alguém me mostrou a música que partilho no fim deste cardápio. Certeira. Mas se em tempos a ouvi com saudosismo, agora oiço-a zangada. Sentimento tão atípico em mim. Zangada comigo porque insisto e expor-me a altas temperaturas quando sei que não sou a pedra da dita sopa. Porque insisto em me preocupar e dar o melhor de mim nas alturas erradas. Porque embora me considere uma mulher inteligente, o meu coração de manteiga deu-me cabo da receita.
É engraçado como as cozinheiras que sempre tiveram uma vida recheada de ingredientes problemáticos tendem a achar que uma situação difícil é apenas mais um simples desafio. Uma cozinheira normal fugiria a sete pés. Em 2009 esta é uma das coisas que vai mudar por estes lados.

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