quinta-feira, novembro 19, 2009

Beleza na cozinha

Um dia acordamos e os olhos que ontem tinham começado a perder a ingenuidade, voltam a querer sentir o que de mais belo há à nossa volta. Vejo a mancha de café na bancada da cozinha e não é apenas sujidade: é a presença daqueles que sempre farão parte da minha vida. Não a limpo. Olho pela janela e vejo o nevoeiro. Já me tinha esquecido de como gosto do início do Inverno. Se repente, apetece-me perder-me no meio dele, sem ver nada à minha frente. Afinal, nem sempre temos de ver para sentir.
Vejo as caras que, no meio do stress, têm tantas vezes um sorriso quando eu passo. Almoço com elas, entre piadas brejeiras e percebo que uma gargalhada me enche a alma de cada vez que a dou. Gosto de rir. Gosto mesmo. Faço questão de voltar ao passadiço de um prédio frio ao fim da tarde só para ver as cores do pôr-do-sol que (só) descobri inesperadamente tantos anos depois de ali estar. Sinto o vento na cara, os lábios gretados, o casaco que me roça no queixo… e sei que a natureza será sempre mais forte que eu. E é tão bom que assim seja.
Hoje volto a perceber que a beleza está em todo o lado. Que não quero perder tempo a remoer no que me tolda esta visão. A hesitar, a pensar duas vezes quando me apetecer sugar tudo de forma espontânea. O mundo não pára. Eu também não. Falta apenas saber ver a beleza deste eterno tic-tac.

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