segunda-feira, março 15, 2010

Espinafre

É alto, esguio, frágil na aparência, mas forte por dentro... como só quem já passou agruras na horta da vida sabe ser. Tenho um amigo que é assim. Já perdi a conta aos anos, mas já lá vão muitos desde que lhe comecei a chamar espinafre.
Há vegetais que entram na nossa cozinha sem querer e que a culinária da vida se encarrega de manter no nosso caminho repetidamente, tornando-os em presenças habituais no menu. Criam-se laços, geram-se sentimentos de protecção e carinho que nem mesmo o tempero mais avinagrado consegue estragar. Talvez por isso, quando de manhã me dizem em tom grave "o 'espinafre' teve um acidente" sinto-me a desfalecer durante uma fracção de segundo que parece durar uma eternidade. Mantenho o meu ar mais sereno (como é hábito), mas só sossego a minha couve coração quando oiço uma voz de sempre garantir-me que o espinafre continua rijo, embora de molho à espera de ir à faca.
Salteio-o de palavras positivas e piadas parvas. Tenho a certeza que a força que lhe é característica (talvez para muitos desconhecida) não vai faltar. Agora, em casa, suspiro finalmente. Já não foi uma estreia nossa de sorrisos doridos entre as paredes brancas. Mas sabe sempre demasiado amargo, como se fosse a primeira vez.

2 comentários:

Unknown disse...

Um texto mais lindo que o outro! Desse jeito, serei obrigado a realizar alguns "assaltos" periódicos ao seu blog...hehe Prometo dar os devidos créditos!

Beijos,
Fausto

Chef Cosme disse...

Fausto!!! :)
Que agradável surpresa. Estás autorizado a assaltar a minha cozinha sempre que quiseres... Os meus tachos são os teus tachos!
Vai dando novidades da viagem. Cá te espero em Junho ;)

beijinho!