segunda-feira, março 29, 2010

Tortilhas


Cebola às rodelas com lágrimas escondidas. Batata consistente para conseguir enfrentar um mundo que um dia desaba, mas não pára. Chouriço picante de quem quer viver tudo o que pode. Ovos que envolvem eternamente todos os ingredientes à sua volta. Depois de frita, por vezes até queimar, a tortilha alimenta muitas bocas. Que reclamam, egoistamente, a sua possível ausência.
Há um dia em que a tortilha quer ser livre. Quer voar da frigideira para um qualquer outro prato longínquo. Começa como uma fuga. Mas termina por ser um processo de cozedura emocional, em que a tortilha percebe que não há refeições insubstituíveis no menu. Quando ela não estiver, haverá mais comida. Na verdade, a fome nunca baterá à porta.
Não há uma tortilha que seja igual à outra. Mas há algumas que inevitavelmente acabam por se cruzar no prato da vida. Podem nunca mais se voltar a ver, mas vão sempre lembrar-se desse encontro. Porque têm a mesma essência. O mesmo sabor… Estas coincidências eu já deixei de tentar perceber. Mas é bom quando inesperadamente alguém surge apenas para nos compreender num olhar.

1 comentário:

Jose Pimentel disse...

O olhar, mais uma vez o que fica é o olhar.
E o Sabor...