
Cebola às rodelas com lágrimas escondidas. Batata consistente para conseguir enfrentar um mundo que um dia desaba, mas não pára. Chouriço picante de quem quer viver tudo o que pode. Ovos que envolvem eternamente todos os ingredientes à sua volta. Depois de frita, por vezes até queimar, a tortilha alimenta muitas bocas. Que reclamam, egoistamente, a sua possível ausência.
Há um dia em que a tortilha quer ser livre. Quer voar da frigideira para um qualquer outro prato longínquo. Começa como uma fuga. Mas termina por ser um processo de cozedura emocional, em que a tortilha percebe que não há refeições insubstituíveis no menu. Quando ela não estiver, haverá mais comida. Na verdade, a fome nunca baterá à porta.
Não há uma tortilha que seja igual à outra. Mas há algumas que inevitavelmente acabam por se cruzar no prato da vida. Podem nunca mais se voltar a ver, mas vão sempre lembrar-se desse encontro. Porque têm a mesma essência. O mesmo sabor… Estas coincidências eu já deixei de tentar perceber. Mas é bom quando inesperadamente alguém surge apenas para nos compreender num olhar.
1 comentário:
O olhar, mais uma vez o que fica é o olhar.
E o Sabor...
Enviar um comentário