terça-feira, maio 26, 2009

Empadão de Paulinha


Parei ontem por 30 segundos quando entrei no carro e descobri que estou cansada. Como se viesse a acumular camadas e camadas de diferentes cansaços num empadão. Durante muitos anos fui um pilar precoce numa família descontrolada. Geria horários e refeições quando ainda devia estar a aprender a fazer o meu primeiro ovo estrelado. Pedia empréstimos para pagar dividas ao Estado daqueles que me deviam estar a ensinar a preencher o meu primeiro IRS. Participei na educação dos primeiros anos de uma criança… quando ainda nem tinha maturidade para sequer pensar em bebés. Tinha dois empregos ao mesmo tempo, para conseguir pagar um curso feito em simultâneo. Extenuada, dei início a uma segunda carreira ainda mais extenuante. As responsabilidades e horários cansativos aumentam. A recompensa económica, essa chega a conta gotas. Há quem diga que tudo isto me deu a dita estaleca. Eu digo apenas que me sinto cansada.
Nos últimos tempos (talvez oito meses) dou por mim simplesmente incapaz de agir naturalmente nas habituais responsabilidades. Entregar um IRS a tempo, cumprir um prazo de inspecção do carro, pagar contas em atraso. É como se tivesse tido um bug no meu sistema interno de organização. Tenho insónias, viajo como escape e, embora não me sinta de todo infeliz, tenho muitas vezes vontade de arrumar as botas. E começar de novo.
Sou optimista por natureza e não gosto de me sentir assim. Encaro tudo com um sorriso mas se calhar chegou a altura de perceber que não sou de ferro. Como diria um livro da Anna Gavalda, "queria ter alguém à minha espera num sítio qualquer". Que dissesse apenas: descansa um bocado, agora trato eu de tudo.

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