segunda-feira, janeiro 07, 2008

Tacho queimado

Só quando nos defrontamos com a iminência de uma tragédia é que nos apercebemos realmente da capacidade de amor incondicional que possuímos. Durante anos odiei-o em silêncio. Admito que durante algum tempo foi por orgulho. Decidi perdoar, mas a indiferença continuava presente. E agora, quando a tragédia surgiu como desfecho de uma história eternamente mal resolvida, percebi que o amo… mesmo quando a razão me diz friamente que não devia.
O amor incondicional é como um cozinhado que fica queimado. Muitas vezes não o desejamos, tem um gosto perturbador, mas não há forma de o evitar. Podemos adicionar água, retocar os temperos, tirar apenas o que está por cima, mas o gosto a queimado já não sai. Podemos também esfregar o tacho com mil esfregões de arame, mas as marcas da queimadura dificilmente desaparecerão. Tal como o amor.

3 comentários:

Anónimo disse...

tachos,frigideiras colheres de pau e demais utensilios de cozinha, queimadas,velhas de tanto uso ou simplesmente inuteis aos nossos olhos(já deitei no lixo algumas que passados 10 mns já lá nao estavam)sao assuntos que por vezes parecem triviais mas para mim como bom garfo e amante da cozinha, sao de extrema importancia!mas o que me leva a escrever aqui hoje e pela primeira vez é o sentimento de que algo aconteceu com o teu pai... como nao sei o que foi espero apenas que nao tenha sido nada que vos impeça de mostrarem um ao outro o quanto se amam !forte abraço com muita energia positiva!!

Anónimo disse...

O Amor incondicional é o Amor mais bonito que conheço, se é que se pode catalogar o Amor em géneros, tipos ou dimensões. É verdade que as marcas da queimadura não desaparecem por melhor seja o esfregão e mais energico seja o bracito que o esfrega, mas já pensaste que as cicatrizes e as marcas são como a impressão digital da memória? Servem para nos fazer lembrar o tanto que já vivemos e, quando é caso, perceber que apesar de tudo estamos ali. É como uma daquelas histórias de encantar que se escrevem assim: "era uma vez... e foram felizes para sempre"! Porque no meio das histórias, minha querida Paulinha, nem sempre está a virtude. A essência dos afectos e acapacidade de perdão fazem-nos!

Beijo grande
C.

Chef Cosme disse...

Agradeço as palavras dos dois comentários. O amor, tal como os tachos queimados, tem muito que se lhe diga.
Fico contente por ver que há novos visitantes aqui na cozinha... Benvindo/a! Espero que encontres aqui um espaço de partilha de iguarias e modos de confecção... porque a vida no fundo não passa de um grande cozinhado! Retribuo os votos de energia positiva e
espero voltar a "ler-te" por cá! ;)