sexta-feira, novembro 30, 2007

Mostarda cor-de-burra quando foge

Ingredientes:
200g de mostarda
1 rolo da massa

Receita:

Há uns tempos, a mostarda chegou-me ao nariz. Tinha pimenta a mais, era demasiado amarela (tipo cor-de-burra quando foge) e a sua consistência não era nenhuma. Uma mostarda vazia. Um género de vómito mascarado. Só este tipo de mostarda é que é capaz de despertar a padeira de Aljubarrota que há em mim. Com a colher de pau e o rolo da massa na mão, prontos para um duelo ao pôr-do-sol. Foi o que aconteceu um dia destes…
Dei por mim a dizer a seguinte frase: “Ó minha querida, de meu só te dava uma coisa: os nós dos meus dedos espetados na tua fronha”. Estranho, não? Não me considero uma pessoa agressiva. Aliás, até costumo ser muito paciente e a violência nunca me parece ser uma opção. No entanto, tudo isto muda quando alguém faz mal a um dos meus amigos. Sim, embora possa parecer uma frase batida, para mim os amigos são sagrados.
Tenho a sorte de ter alguns, daqueles verdadeiros. Dos que estão sempre lá, seja qual for o prato que lhes meto à frente. Sinto por eles um sentimento incondicional. Amor, suponho. Talvez por isso seja para mim inconcebível que alguém possa prejudicar deliberadamente estas pessoas que tanto prezo. É verdade, sou uma paz d’alma, mas a mostarda chegou-me ao nariz… e subiu-me à cabeça. Molho assim a minha batata frita, em todas as mostardas insípidas deste mundo. Brindo à vossa ignorância.
Olhando para trás dá-me vontade de rir. Aliás, já ri muito (rimos) por causa deste episódio. Porque quando se trata de mostardas mal condimentadas, não há nada melhor que rir. No entanto, o rolo da massa continua aqui guardado… não vá a mostarda tece-las!

Leite "desinsuflado"

Ingredientes:
Leite, muito leite
500g de escombros
1 mulher à beira de um ataque de nervos

Receita:
Durante algumas semanas suga-se todo o leite, até reduzir a “escombros” o corpo de uma recém-mamã. Mistura-se com poucas horas de sono e muitas fraldas, até deixar qualquer mulher à beira de um ataque de nervos.

Explicação:
O nascimento de uma criança é, à partida, sempre um momento de felicidade. Imagino que ser mãe deve tirar o chão debaixo dos pés a qualquer mulher. Um dia, daqui a uns bons anos, lá chegarei. No entanto, há todo um lado pós alegria que permanece como mistério no mundo feminino. No meio surgem os dramas que só uma mulher consegue ter:

Ela - Tou à beira da decadência.
Eu – Então?
Ela - Então... gorda, flácida, sonolenta, com os peitos moles…
Eu - Txxxiiii que exagero! Isso acaba por ir tudo ao lugar, não te preocupes.
Ela - Mas nc pensei q as minhas mamas ficassem assim pá! Eles sugam e isto desinsufla!
Eu - Q visão! Vou repensar mt bem a minha vontade de ter um bando deles…
Ela - Se ficamos reduzidas a escombros do q éramos n importa nd. Há q deixar sucessão.
Eu – Tas bonita, tas! Tenho de te raptar p uma noitada a ver se animas.
Ela - Podes crer! O meu dia resume-se a cocós e biberões. Desta é q se foi a minha juventude…


(Desde já obrigado por teres deixado publicar esta conversa, que terminou em boas gargalhadas) Depois de uma explicação horripilante sobre a epidural, nada como este cenário de um corpo “reduzido a escombros” para adiar por uns longos anos qualquer vontade de ter crianças. É que no meio da felicidade, há um aspecto de que não nos conseguimos desprender: além de mães, somos mulheres. Em todo o sentido da palavra.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Prato do dia

Mais uma que não consigo parar de ouvir. A mistura do saxofone é simplesmente divina!
Ainda hoje volto cá para trasncrever uma conversa maravilhosa sobre, nada mais, nada menos... leite!



A frase desta: "A saudade a bater, uma dor que ao doer é só minha"

quarta-feira, novembro 28, 2007

Dissertações da cozinheira

"O Clube dos Poetas" foi, é e será sempre (suponho!) o meu filme preferido.

"I went into the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life ... to put to rout all that was not life. And not, when I came to die, discover that I had not lived", Henry David Thoreau

terça-feira, novembro 27, 2007

Secretos de visualizações

Ingredientes:
1 lata de polpa de visualizações
Secretos de felicidade
200g de imaginação

Receita:
Põem-se os secretos estendidos num tabuleiro e rega-se com a polpa de visualizações. Leva-se a alourar em 200g de imaginação.

Decidi dedicar-me ao exercício das visualizações. Deitei-me na minha cama e fechei os olhos. Dez segundos depois voltei a abri-los. Estava indecisa. Afinal quais são os meus objectivos para o futuro? É claro que tenho alguns bem delineados… mas serão os correctos? Em vez de impor um pensamento, decidi deixar a minha imaginação funcionar livremente.
Fechei novamente e ali estava eu. Ao fogão. Oiço duas vozinhas a gritar “Mãããe”. Uma figura masculina envolve-me a cintura. Abro os olhos e não consigo evitar: “Ao fogão?!?! O teu futuro é esta sopeirice?”. Mas na realidade não me sentia nada sopeira na visualização.
Tento de novo. Desta vez surge um cenário romântico. Estou numa sala acolhedora e a tal figura masculina (cujo rosto não existe, talvez porque não exista um rosto possível na minha mente) puxa-me para dançar. Pelo simples prazer de dançar. Volto a abrir os olhos sem perceber nada.
Última tentativa, digo eu. Desta vez estou de pernas cruzadas num sofá confortável. É de noite e eu escrevo afincadamente num portátil. Pelo prazer com que escrevo, suponho que seja uma reportagem. Surge a tal figura, mais uma vez. Massaja-me os ombros e diz que está desejoso por ler. Desisto. A minha imaginação parece uma novela.
Horas mais tarde decido reflectir sobre isto e concluo que o nosso cérebro é uma máquina surpreendente. Embora pareçam cenas banais, no fundo a minha imaginação só transpareceu os meu desejos mais íntimos: 1º Ser mãe. 2º Ter uma relação de muita cumplicidade. 3º Estar intelectualmente activa, tendo ao meu lado uma pessoa que apoia a minha carreira.
Claro que há muitos objectivos além destes. Viagens, projectos profissionais, etc. Mas se calhar é nestas situações tão banais que vou encontrar a plenitude. Desejos à partida simples, penso. Mas terá a felicidade de ser uma coisa complicada?

Prato do dia

Adoro ouvir versões ao vivo. Sou de manias... quando embico para uma música, tenho a tendência de a ouvir repetidamente. No carro, tinha de ser. Há sempre uma frase que me faz parar. Por vezes há um motivo. Neste caso é só porque me soa bem.



Nesta música, a frase: "You've got me wild, turned around inside".

domingo, novembro 25, 2007

Do cabaret para os doces conventuais

Ingredientes:
1 coro de gospel
kgs vitalidade extra

Receita:
Bate-se o coro de gospel durante duas horas, com muitos kg de vitalidade. Serve-se em tacinhas, onde cada um acredita no que quer.

Explicações:
Se houve filme cuja gravação em VHS muitas vezes rodou no meu velhinho vídeo foi o "Do Cabaret para o Convento". Durante uns bons anos cantva o "Oh Happy Day" desalmadamente e imaginava-me num daqueles coros, com uma batina, a bater palmas e a dizer "Aleluuuuuuuia". Uma contradição, uma vez que a minha veia religiosa é inexistente.
Ontem tive a oportunidade de assistir pela primeira vez a um concerto de gospel. Até os meus tornozelos ficaram arrepiados. A energia, a alegria, a vitalidade que emanava aquele grupo de pessoal português, à partida tão parecido comigo, fez-me vibrar. Durante cerca de duas horas deixei-me levar pela palavra do "Senhor", cantada. Embora sejam letras quase sempre com carácter religioso, a verdade é que podemos adaptá-las a qualquer que seja a nossa ideologia. "Him" ou "The Lord", na minha cabeça transformou-se em tudo menos em Deus. Não poderá ser este senhor simplesmente um reflexo da nossa força de vontade? Da nossa capacidade de acreditarmos em nós mesmos?
Culinariamente falando, ouvir este coro foi equivalente a comer uma bela doçaria conventual. Daquelas que nos deixam satisfeitos até à alma.
Aqui fica uma das interpretações do Faith Gospel Choir:

quinta-feira, novembro 22, 2007

Cobertura de raspas de amor

Ingredientes:
1 frase
500g de teoria
Raspas de amor

Receita:
Bate-se a frase com as 500g de teoria até ficar macio. Juntam-se as raspas de amor, muitas vezes apenas para enfeitar.

Explicação:
Mais uma vez "O Monge que vendeu o seu Ferrari". Outra que me fez parar:

" Só depois de dominares a arte de te amares a ti mesmo é que podes verdadeiramente amar os outros"

Há muito tempo que esta é a minha teoria. Embora racionalmente esta seja uma frase de simples interpretação, pô-la em prática parece-me um pouco mais complicado... se bem que nem damos conta. Estaremos nós realmente prontos para nos amarmos a nós próprios incondicionalmente?
De há uns tempos para cá (expressão que eu tanto gosto de usar), tenho dito aos quatro ventos que cada vez gosto mais de mim. Mas será que me amo? Pergunto isto porque após uma breve análise do meu dia de hoje, semelhante a tantos outros, dou por mim a ter comportamentos totalmente auto-destrutivos. Amar-me-ei eu ao deixar-me trabalhar doze horas praticamente seguidas? Ao comer uma mera sandes ao almoço porque o tempo (e o dinheiro) não dão para mais? Terei eu respeito por mim mesma quando deixo para trás as coisas que me dão prazer em prol das obrigações? Terei eu amor próprio quando chego a casa e, em vez de ter tempo para um banho relaxante, uma conversa com a família, um jantar saudável, tenho apenas um tabuleiro em cima das pernas (com uma massa daquelas para aproveitar os restos que há no frigorifico) enquanto tento desenhar um esquema para o trabalho do dia de amanhã?
Será a minha ambição e a paixão pela minha carreira uma forma de não me amar completamente a mim? Não sei. Mas às vezes duvido que me ame tão incondicionalmente como devia. Será que alguém o faz?

quarta-feira, novembro 21, 2007

Dissertações da cozinheira

Sempre gostei de jogos.
O primeiro que me fez vibrar foi concerteza a "Apanhada". Mas o que eu mais adorava era aquele dos "Países". Cresci e passei aos complicados jogos amorosos. Pelo meio, vários tácticas no sector profissional. Já passei pela posição de defesa, mas também pela de avançada. Fiz bluf, mas também já apostei tudo o que tinha para apostar.
Hoje em dia há um jogo que não dispenso: o das palavras. Um género de "esconde-esconde" para adultos. Na verdade gosto de me esconder e de esperar, com um friozinho na barriga, que a outra pessoa tenha inteligência suficiente para perceber que já contei até dez e agora é a sua vez de ir à procura. O problema é quando aparece um batoteiro e inverte os papéis sem dar a conhecer ao árbitro.

terça-feira, novembro 20, 2007

Paté de carangueja

Ingredientes:
1 carangueja
200g de wikipedia

Receita:
Batem-se dez letras no teclado até formar a carangueja. Com uma colher mistura-se a definição da wikipedia até ficar consistente... ou não.

Explicações:
"Tímidos e misteriosos, os caranguejos são muito ligados a tradições. É o signo do sonho, da ternura, imaginação e da memória tenaz que fixa e idealiza as recordações, acontecimentos e sentimentos do passado para se proteger contra as incertezas do futuro. Sedutor e sensual. O amor do caranguejo tem sempre algo de contos de fadas, com a sua princesa, o seu príncipe encantado, mas também com uma maldição a combater e monstros ameaçadores. É o amor puro das crianças, o amor maternal, o amor romântico, mergulhado num sonho ideal e inacessível ou definitivamente parado num rosto ou num nome. O humor do caranguejo é extremamente mutável e em ocasiões tende a ser rabugento e agressivo, uma vez que sua necessidade de auto-defensa (às vezes antes mesmo de ser atacado) é uma de suas características fundamentais. Oscila entre o júbilo e a depressão. Podem ser muito fechados. Costumam ser muito capacitados intelectualmente e extremamente ligados às artes e à poesia."

O meu ascendente em capricórnio teria muito a dizer quanto à parte dos contos de fadas... mas no essencial é isto. E até já vem na wikipedia.

Dicas soltas para pitéus diários

Ando ler "O monge que vendeu o seu Ferrari". Houve uma frase que me fez parar, reler e pensar. Achei que a devia partilhar aqui na cozinha:

"Nunca te arrependas do teu passado. Acolhe-o como o mestre que ele é", Robin S. Sharma.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Tomates bravos


Ingredientes:
vários kg de homens italianos
500g de lata
tomates bravos qb

Receita:
Misturam-se os homens italianos num tacho com as 500g de lata. Juntam-se uns tomates bem bravos e mexe-se em espiral, com toda a pinta do mundo

Explicações:
"Somos bravos como leões. Preferimos tentar e ouvir um não, do que ficar a pensar como teria sido". A lógica dos homens italianos (esta frase foi-me dita por um) foi um dos pormenores que muito me agradou na minha passagem pelo norte de Itália. Têm lata, é verdade. Gostam de se arranjar, é verdade também. São chatos... às vezes, mas ao menos demonstram ter atitude. Em português: tomates.
"Sempre gostei deles atrevidos", dizia-me há uns tempos uma amiga. Devo concordar. Na verdade, a maioria das mulheres continua a gostar de ser cortejada, de ouvir piropos e sentir luta no jogo do "vai-nao-vai". Ser atrevido não significa ser ordinário e isso os italianos sabem bem. Para eles não há a nova mania do "as mulheres é que têm de dar o primeiro passo": gostam de conquistar e tiram um enorme prazer dessa faceta. Como eles próprios diriam, uns verdadeiros leões.
Posto isto, resta-me uma pergunta repetida à exaustão por tantas bocas próximas de mim: que é feito dos tomates bravos portugueses?

domingo, novembro 18, 2007

Salteado de 8 restaurantes que me marcaram

Ingredientes:
500g de bons momentos
8 restaurantes
recordações para saltear

Receita:
Dos oito restaurantes retiram-se 500g de bons momentos. Salteia-se com recordações.

Explicações:
Cheguei a esta conclusão: grande parte dos momentos da minha vida que mais histórias deixaram para contar foram passados à mesa. Aqui fica o ranking dos oito restaurantes que mais marcaram a minha vida:

- "Bonjardim" - Ali mesmo ao lado do Coliseu, era um ritual sagrado dos domingos com os avós. O momento mais aguardado era o magnifico gelado de 3 bolas, chantily e groselha com que me batia a cada ida lá.
- "Forno" (salvo erro!) - Quem não se lembra dos jantares de turma na Feira Popular? Com 9/10 anos era uma festa! Uma coca-cola era o suficiente para ficarmos bebedos de alegria. Que saudades!
- "Dona Fátima" (não me recordo do nome real) - Tantos momentos... A primeira piela da minha vida, tinha eu 15 anitos (bastaram 3 copos de vinho branco, uma miséria). Discussões, alegrias, pancadaria, arrufos de namorados, sessões de estudo, confissões... tudo se passou naquele cafezinho durante três anos da minha vida, com o ombro amigo das nossas queridas Fátima e Luzia!
- "Modesto" - Caso para dizer: já fui muito feliz em Sesimbra. Se o choco frito, o vinho à pressão e a tarte de requeijão pudessem falar teriam muuuuuuitas histórias para contar. Local de culto com os meus melhores amigos e não só. Quando é que lá voltamos?
- "Afrodite" - Restaurante afrodisíaco ali pros lados da Expo. Acho que não é preciso contar os pormenores.
- "O Farol" - Os anos passam e é pela mão do meu adorado padrinho que lá continuo a ir para comer as ameijoas. Grandes reuniões de família, muitas mariscadas, belas conversas. Quando tiver filhos de certeza que os vou lá levar também.
- "Povoense" (mais conhecido por Tirinhas) - Talvez as maiores barrigadas da minha existência. Comer até cair pro lado. Um aniversário de bradar aos céus que acabou com o pessoal a chupar gasolina de um carro, com uma mangueira. Muitas horas de espera para ter mesa. Mas sempre momentos compensadores. Sai uma dose de tiras e salsichas na brasa!
- "Pedro Pescador" (também não me lembro do nome real) - Ir a Setúbal comer peixe grelhado é outro ritual que não consigo quebrar. E o Pedro tem o melhor pregado do mundo. A prova de como uma tasca consegue dar aos clientes o verdadeiro manjar dos deuses.
Se precisarem de moradas estou disponível! :)

Nuvens em castelo

Ingredientes:
Toneladas de nuvens
Castelos de imaginação

Receita:
Batem-se as toneladas de nuvens até formarem castelos de imaginação.

Explicações:
Há coisas que faço desde que sou gente e que tenho a certeza que continuarei a fazer enquanto existir neste mundo. Uma delas é olhar para as nuvens.
Quando era pequena, nada me dava mais prazer do que ir para o terraço ficar a olhar para o céu. Castelos, dragões, guerreiros, caras, letras, montanhas. São inúmeras as coisas que já vi (e continuo a ver), como se de um filme se tratasse.
Fruto da imaginação ou um mero reflexo do que me vai guardado na alma, nunca soube explicar. Mas fito sempre com um sorriso interior estas manchas brancas. São as minhas pranchas de Rorschach secretas.
Vinha a caminho de casa e as nuvens vieram-me à ideia, embora seja noite escura. Achei que devia escrever sobre isto. Não sei explicar porquê. Se calhar está na hora de ir dormir.

sábado, novembro 17, 2007

Cataplana de olhar feminino raioX

Ingredientes:
1 Grupo de amigas
500g Olhar raioX
Sintonia qb

Receita:
Junta-se um grupo de amigas bem guarnecidas, polvilha-se com o olhar raioX e frita-se em sintonia qb. Serve-se num brainstorming de 30 segundos.

Explicações:
As mulheres são tramadas. Encarnando a faceta de super-homem, com todos os seus super-poderes, usam a visão raioX como função primordial da vida. Sem qualquer combinação prévia, em poucos segundos passam em conjunto o olhar, tal qual scanner detector de defeitos. Segue-se sempre um brainstorming:

- Ele é engraçado.
- Também achei. Gostei das mãos!
- Reparaste nos olhos rasgados?
- Não achei foi lá muita piada aos pés.
- Mas olha que com aquela voz promete.
- Sem dúvida, tem pinta.
- Mas precisa de uma remodulação nos trapos
- Oh cala-te! O rabo tá no ponto.
- Devias deixar de ser parva e fazer qualquer coisa.

Tudo isto num espaço de 30 segundos. Não sei onde vamos buscar esta frieza de análise. Então eu, criatura habituada a demorar (demasiado) quando toca a observar alguém.
Seremos nós mulheres um bando de criaturas fúteis quando nos juntamos? Espero que não, mas admito que adoro estes minutos de pura sintonia feminina, pouco escrupulosa, que culmina com uma inevitável gargalhada. Na realidade, quando chega a hora da verdade nenhuma de nós usa os ditos super-poderes. Eu que o diga. Principalmente quando até achei piada ao objecto de análise.

sexta-feira, novembro 16, 2007

O meu cozido à portuguesa

Ingredientes:
Toneladas de pormenores
1 Mulher muito portuguesa

Receita:
Põe-se a mulher muito portuguesa dentro de uma panela alta e juntam-se as toneladas de pormenores demasiado tugas. Serve-se numa travessa de barro.

Explicações:
Sou tão portuguesa que até irrita. Consigo juntar em mim todas as couves, enchidos e partes menos apetitosas do porco. Sou o que se pode chamar um verdadeiro cozido à portuguesa.
Canto fado (na banheira, reforço) com toda a alma, bebo moscatel e licor beirão como quem sorve o néctar dos deuses, adoro todas as comidas pesadas que vão da feijoada às belas das favas. Gosto de ir à praça de manhã e regatear o preço com as peixeiras, vocifero no trânsito para descarregar o stress, acelero que nem uma louca só pelo prazer da condução.

Raramente faço queixas para não levantar ondas, gosto de juntar a família no almoço de domingo (cada vez mais difícil), vibro com os santos populares e adoro ficar com o cheiro da sardinha entranhado na roupa. Gosto de dizer palavrões e de rir bem alto. Fazer jantaradas até às tantas, com o inevitável petisco sempre presente. E o mar, o mar… era incapaz de viver num país sem mar. Sou supersticiosa. Continuo a gostar dos beijinhos de boa noite tão lusitanos. Emociono-me com facilidade, sou nostálgica. Adoro ver as fotografias de momentos felizes e, claro, sinto saudade. Essa palavra tão portuguesa.
Só não gosto de ir à missa. Desculpem lá este pormenor.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sonhos com recheio traidor

Ingredientes:
70kg de assunto problemático
1 Noite de sonhos saudosistas
Frustração para polvilhar

Receita:
Após uns quantos meses em banho-maria, deitam-se os 70kg de assunto problemático numa noite de sonhos fraudulentos e saudosistas. Acorda-se totalmente polvilhado em frustração.

Explicações:
Sinto-me defraudada pelo meu subconsciente. Fui traída da forma mais vil possível pelo meu próprio cérebro. É o que dá quando tentamos, em vão, esquecer uma situação sem a resolver primeiro.
Nunca vos aconteceu terem a certeza que tinham um assunto resolvido dentro da cabeça? Sentirem-se seguros de que nada do que viesse a seguir poderia voltar a fazer-nos ter um turbilhão de sentimentos contraditórios? Ora bem, eu sou um óptimo exemplo. Decidi resolver uma situação na minha cabeça, sem na prática a ter resolvido. Decidi esquecer, pôr para trás das costas. E confesso: sentia-me em pleno com a decisão.
Esta noite os sonhos trocaram-me as voltas. Sonhei com o que não devia. E o pior: sentia-me muito bem no sonho. Acordei zangada comigo mesma. Não era suposto ter sido enganada por mim mesma desta forma. Fica a lição: não deixes para amanhã o que podes resolver hoje. Mas agora já é tarde.

Aqui está uma música que me dá muito que pensar. Adequa-se.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Castanha brava com água-pé

Ingredientes:
1 Saca de castanhas bravas
1 Garrafa de água-pé
Loucura extra qb

Receita:
A uma castanha mansa junta-se uma garrafa de água-pé até esta se tornar brava.

Explicações:
Tenho vontade de tirar a capa de fora da castanha que há em mim e ser louca por um dia. Arrancar a pele de suposta sanidade que envergo diariamente e fazer todas as coisas que castro a mim mesma. Vontade de ser uma castanha a saltar na brasa, cheia de sal, com demasiado sal, que fique durante muito tempo nas papilas gustativas de alguém. Beber toda água-pé da garrafa e cantar o fado sem vergonhas.

Decidi que vou tirar um dia para sair da linha. Após anos de castanha mansa, decidi tornar-me brava por umas horas. Sair do cartucho feito de páginas amarelas em que vivo. O hábito obriga-me a esta faceta responsável. Mas hoje não me apetece. Espero que amanhã também não.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Lombo marinado

Ingredientes:
Vários kg de lombo de Paulinha
1 edredão

Receita:
Para que o cozinhado diário resulte, deve-se deixar o lombo de Paulinha a marinar no edredão até que as olheiras diminuam.

Explicações:
Tal como o lombo de porco precisa de marinar para ficar mais tenro, também o meu rico lombo precisa de marinar umas boas horas de vez em quando. Para muitos, dormir é visto como uma perda de tempo. Eu confesso que o tenho como um prazer.
Nada como tirar uma manhã para marinar na cama. Acordar sem o som do telemóvel, espreguiçar-me sem pressas e, o melhor, poder voltar a fechar o olhos e deixar-me ficar na ronha mais meia-hora. A cereja no topo do bolo é quando ainda me sobra tempo para estender o braço, agarrar o livro na mesa-de-cabeceira e ficar a ler até a vontade de ir à casa-de-banho ser insuportável.
Cada vez dou mais valor a essas marinadas… até porque não tenho grande oportunidade para as fazer. As noites são sempre curtas, os sonhos, esses são um reflexo do stress do dia-a-dia. Invariavelmente imagens de trabalho percorrem o meu subconsciente de forma alucinada. Acordo frequentemente com a sensação de não dormido sequer um minuto.
Agora já percebem o motivo destas olheiras crónicas: falta de marinar! Parem de me dizer que levei murros nos olhos!

terça-feira, novembro 06, 2007

Escala de sentimentos folhada

Ingredientes:
250g de teoria folhada
2 palavras da escala de sentimentos
problemas de expressão qb

Receita:
Estendem-se as 250g de teoria folhada numa forma em formato de coração. Adiciona-se 2 palavras cremosas da escala de sentimentos, salpicadas com problemas de expressão.

Explicações:
“Na escala do gostar, adorar significa mais do que amar. A explicação é simples: adorar, adora-se a Deus, amar, ama-se o próximo”.
Esta teoria deixou-me perplexa. Nunca tinha pensado nestas expressões desta forma… talvez por a religião não ser o meu forte. Após esta conversa, foi impossível deixar de reflectir na palavra XXX, que tanto me custa proferir. Podem-se contar pelos dedos das mãos as vezes que a disse. A pessoa, essa foi só uma. Embora tenha acabado, na altura foi sentido, claro.

Dizer XXX sempre me custou muito mais do que dizer adoro-te. Afinal estava enganada e devia ter invertido esta dificuldade. Mas XXX é uma palavra tão pesada, embora bonita, séria, com a qual não consigo brincar. Sempre me irritaram aqueles casalinhos que a dizem a toda a hora. Tem uma carga tão forte que prefiro transmiti-la com um olhar ou um toque. Mas nas raras vezes que a digo, sinto-a sempre como algo especial. Talvez por isso também não goste de a ouvir a toda a hora. É como se deixasse de ser verdade ao ser dita muitas vezes.

Como sempre tive muito medo de assumir sentimentos, dizer XXX não é fácil. A primeira vez que o disse acho que passei horas a pensar se realmente era verdade. No entanto, a palavra saiu sem me aperceber. E não custou nada.
Algumas pessoas dizem-me que sou uma “pedra de gelo”. Será isto verdade só porque eu não gosto de o dizer repetidamente?

Aqui fica uma música que sempre traduziu muito bem o meu “Problema de Expressão”.