Encho um tacho com água, ponho a touca na cabeça para não deixar vestígios do meu longo cabelo, dispo o avental e salto lá para dentro. Nado ao fim do dia para espairecer. No silêncio da piscina, tal como no silêncio dos meus tachos.A cada braçada sinto a água a ganhar mais temperatura, tal como os meus pensamentos. Nado pelas águas de Malta, onde tenho vontade de voltar depois de um telefonema com desculpa natalícia. Molho os pés no Mar Negro, antevendo a viagem que tenciono fazer este ano pela Turquia. Sigo a bruços até Moçambique e por lá faço uma paragem. Talvez como a que tenciono fazer quando organizar a minha rota (da vida).
Mergulho novamente até às piscinas de São Bento, de onde guardo as melhores memórias de uma infância que terminou envolta em tristeza. A tristeza transporta-me para as margens do rio Saone, em Lyon, onde descobri mais uma vez que na minha cozinha há uma capacidade estrondosa de erguer a cabeça e seguir em frente em vez de chorar. Deixo-me ficar em banho-maria, porque nas águas algarvias é assim que ando. Acabo a boiar nas recordações de Cinque Terre, onde relaxei pela última vez como costumo fazer na minha natação de fim de dia.
Saio do tacho, os pensamentos borbulham e volto a erguer a colher de pau para mexer a água do meu próximo cozinhado. Só ainda não decidi qual será.

Pão. É este o primeiro grande pitéu da minha cozinha semi-remodelada. E porquê? Porque o pão é talvez dos meus alimentos preferidos… e cuja importância sócio-cultural atravessa gerações, desde a santa ceia com o Jesus e os doze amigos (e a namorada).

Ir a um casamento significa muitas vezes entrar num caminho incontornável de engorda... a todos os níveis. Não só pelos comes e bebes (principalmente os bebes que como se pode ver fizeram o seu efeito), mas também pelo que nos acaba por encher o coração: celebrar a felicidade dos noivos, estar rodeado por amigos de nos engordam o dia-a-dia com a cumplicidade tantas vezes hilariante (devo relembrar a melhor frase do dia: “O ideal é picá-los, levá-los ao estado da loucura e depois não fazer nada quando chega a hora H. O problema é que eu nunca consigo resistir!”), conhecer pessoas novas que podem dar uma ajuda à engorda de emoções fortes inesperadas, encher a barriga (e não só) com gargalhadas descontraídas, mas também com conversas em tom de balanço de vida (é verdade, embora todas evitemos a hora do bouquet como o diabo foge da cruz, os “ses” do amor são um tema recorrente… e deprimente). Junta-se a tudo isto uma cabeça de leitão (a figurar todas as cabeças de porco que temos vontade de espancar), umas perninhas de sapateira (figurando os mariscos que todas temos em vista), e o belo do licor Beirão, para regar com alegria o simples facto de nos entendermos tão bem com um simples olhar. Findo o dia, digerimos o banquete ao som deste hino… não fosse o sucesso do "Apitó Comboio" e 

















Porquê comer frango cozido quando temos frango com caril disponível na ementa? Há alturas em que a vida merece ser saboreada com ingredientes coloridos e aromas mais picantes. É o que tenho andado a fazer.












